O dia começou com um silêncio que não combinava com Curitiba. O céu estava pálido, como se tivesse sido lavado demais, e o vento, indeciso, empurrava as nuvens sem coragem de chover. Na casa segura, Aline distribuía os horários no quadro branco: deslocamento quebrado, rotas alternadas, nada por mais de dois dias. Vivian assistia às letras surgirem sob a ponta do marcador e tentava decorar como quem estuda anatomia: artéria, veia, nervo — erro pequeno, dano grande.— Hoje você não pisa no térreo — determinou Aline. — Elevador social, nunca. Serviço, sempre. E sem olhar para trás.Vivian assentiu. Tinha dormido mal. As mãos ainda lembravam a textura do envelope que trouxeram de madrugada, a foto da antiga república, a frase “Curitiba é pequena”. Sentia na pele que algo avançava. E, ainda assim, havia a lembrança morna do toque de Eduardo, do modo como ele segurara sua mão na noite anterior, dizendo “eu não vou deixar você perder”.Às 10h12, o plano do dia foi para o saco.Eles desceram
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