Atravessaram a ponte rachada como quem pisa dentro do próprio peito e, depois de duas curvas, a trilha abriu para um descampado raso onde o vento corria sem pedir licença. No alto, um depósito antigo de ferramentas, meio casa, meio celeiro, erguia-se como se tivesse sido esquecido de propósito. Aline ergueu o punho, pedindo parada. Observou telhado, chaminé muda, portas empenadas. Nada de pegadas recentes. Nada de latas novas ou bitucas caras. Somente poeira, teias e o hálito frio da manhã.— Por hoje, dá — decidiu. — Respiro curto. Revezamos guarda.Por dentro, o lugar era simples: um fogão de chapa coberto de ferrugem, um tanque de cimento, prateleiras com pregos, um colchão fino dobrado no canto, um espelho rachado que teimava em refletir. Vivian pousou a mochila, tirou o casaco e apoiou o caderno azul na bancada. O corpo dela pediu chão, mas a cabeça pediu água primeiro.— Deixa eu cuidar do seu ombro — disse, virando-se para Eduardo.Ele obedeceu. A bandagem resistiu como pele em
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