A cabine do velho navio cargueiro, que rangia e cheirava a sal e óleo diesel, tornou-se o palco de uma revelação que estilhaçou os frágeis planos de Leonardo e Sabrina. Istambul, o destino exótico que prometia respostas e talvez um confronto com o Consórcio Sombra, dissipou-se como uma miragem diante das palavras urgentes de Beatriz. O "Custos Clavis", o artefato que Lorenzo Bellini confiara a Isabella Rossi, a chave final para o poder da Serpente de Cristal, não estava do outro lado do mundo. Estava em casa. Na mansão Rossi. No coração do império que Don Tulio Costello agora controlava com mão de ferro."Voltar?" Sabrina sussurrou, a palavra um eco de descrença e pavor. "Para a cidade? Para a mansão? É suicídio, Leonardo! Tulio nos caçará como cães! Rocco, se ainda estiver por aí…" Leonardo, o rosto pálido sob a luz fraca da cabine, segurou a mão dela. A fúria inicial pela reviravolta do destino dera lugar a uma fria e calculista determinação. "Se o 'Custos Clavis' é o que Beatriz di

O ar no escritório secreto de Isabella Rossi era rarefeito, pesado com o cheiro de papel antigo e de uma verdade há muito enterrada. Do lado de fora, na biblioteca principal, os passos dos homens de Tulio ecoavam como o bater de um relógio macabro, cada segundo aproximando-os da descoberta. Sabrina, com as mãos trêmulas, mas os olhos brilhando com uma determinação febril, abriu a pequena caixa de madeira entalhada que encontrara sobre o pedestal.Dentro, repousando sobre um leito de veludo desbotado, não havia uma arma, nem joias. Havia um artefato intrincado de bronze e marfim, uma espécie de disco de cifras mecânico, com anéis concêntricos cobertos de símbolos alquímicos e astronômicos. No centro, havia uma pequena ranhura, do formato exato da antiga chave de bronze de sua avó. "O 'Custos Clavis'," Leonardo sussurrou, reconhecendo a genialidade de seu avô. Não era apenas um guardião, era um decodificador, a peça física necessária para traduzir os algoritmos quânticos da Serpente de

A notícia trazida por Beatriz sobre a Promotora Sofia Abrantes ser o "prêmio" secreto do leilão em Istambul caiu sobre o pequeno grupo na vila toscana como uma bomba de fósforo, queimando lenta e dolorosamente cada vestígio de esperança que haviam construído. Leonardo sentiu uma fúria gelada e uma culpa avassaladora tomarem conta de si. A mulher que ele salvara, que ele convencera a forjar a própria morte para escapar da tirania dos Costello, fora caçada e arrastada de volta para o inferno. Por causa dele."Tulio é um monstro," Sabrina sussurrou, o rosto pálido de horror. "Usar a vida de uma inocente como isca… não há limites para a crueldade dele." Viviana Costello, por outro lado, analisava a situação com um brilho calculista nos olhos. "Não é crueldade, querida signorina Rossi," ela corrigiu, a voz suave como seda. "É estratégia. E uma muito eficaz. Tulio sabe que o ponto fraco de um homem com um código de honra distorcido como o de Leonardo é, ironicamente, a própria honra. Ele sa

O silêncio no velho han abandonado era mais pesado e opressor do que o ar úmido e mofado que preenchia o ambiente. A revelação de Beatriz, transmitida pelo comunicador com uma urgência que gelava a alma, pairava sobre eles como uma sentença de morte. A Serpente de Cristal, o artefato que representava a justiça para Lorenzo Bellini e a única esperança de liberdade para eles, era também um farol, um sinalizador quântico que guiava seus piores inimigos diretamente até eles."Então, cada vez que eu usei o dispositivo… na Córsega, e agora no Bósforo… eu estava, na verdade, pintando um alvo em nossas costas?" Leonardo perguntou, a voz rouca, uma fúria impotente dirigida a si mesmo. Ele olhou para a caixa de ébano sobre a mesa de pedra, agora não mais como um tesouro, mas como uma maldição. "Exatamente, L.," a voz de Beatriz soou, tensa. "A emissão de energia deixa uma assinatura residual, uma cicatriz no tecido do espaço-tempo digital, por assim dizer. O componente que Viviana entregou ao C