A escuridão nos dutos de manutenção da Agulha de Lótus era um labirinto claustrofóbico de metal e eco. Para Leonardo, cada centímetro rastejado era uma batalha contra a dor lancinante dos ferimentos e a exaustão que ameaçava consumi-lo. A contagem regressiva de dez minutos para a autodestruição do laboratório do Oráculo era um tambor macabro em sua mente, impulsionando-o para frente. O ar era rarefeito, o cheiro de ozônio e de circuitos queimados picando em seus pulmões. Mas a voz de Sabrina, retransmitida por Beatriz, era sua bússola, seu farol naquela escuridão opressora. "Estamos esperando por você, meu amor." Aquelas palavras eram a única coisa que importava.Ele se movia com a perícia de um fantasma, usando atalhos e passagens que apenas um arquiteto com sua visão espacial poderia deduzir. Evitou por pouco duas patrulhas de operativos do Consórcio Sombra, que subiam pelos dutos de serviço em busca dele, seus feixes de luz cortando a escuridão como lâminas. Leonardo prendeu a resp

A vila siciliana de Tulio Costello era uma obra-prima de poder e paranoia. Aninhada no topo de uma colina que dominava a costa, era uma fortaleza moderna disfarçada de beleza rústica, cercada por olivais antigos, vinhedos e a presença invisível, mas palpável, de homens armados. Ao serem conduzidos pelos portões imponentes, sob as identidades do "Dr. Alistair Finch" e sua assistente, Leonardo e Sabrina sentiram como se estivessem entrando voluntariamente na boca do lobo.Tulio os recebeu não em um escritório escuro, mas em uma galeria de arte espaçosa e iluminada, as paredes de vidro oferecendo uma vista deslumbrante do Mediterrâneo. Era uma demonstração de poder, de controle absoluto. Ele estava impecavelmente vestido, o sorriso polido, os olhos escuros brilhando com uma inteligência fria que era muito mais intimidante do que a fúria bruta de Rocco ou a cobiça senil de Don Vincenzo. "Dr. Finch, signorina," ele os cumprimentou com uma formalidade cortante, "sejam bem-vindos à minha hum

A poeira da Sicília, carregada com os fantasmas de gerações de Costellos e Bellinis, ficou para trás. O que se seguiu à noite apocalíptica na vila de Tulio foi um borrão de movimentos clandestinos e silêncio protetor. Guiados por Kadir e seus Guardiões da Verdade, Leonardo e Sabrina foram transportados através de uma rede invisível de aliados, longe da fúria dos remanescentes da famiglia Costello, da cobiça do Consórcio Sombra e dos olhos curiosos das agências de inteligência do mundo.O santuário deles era um antigo mosteiro bizantino, incrustado nas falésias de Meteora, na Grécia, um lugar onde monastérios pareciam flutuar entre o céu e a terra. Ali, em meio a afrescos milenares e um silêncio que parecia conter a sabedoria de séculos, Leonardo finalmente teve a chance de se curar. Os ferimentos em seu corpo, testemunhas de sua jornada brutal, foram tratados por um médico da Ordem dos Guardiões, um homem que parecia tão versado em suturas quanto em filosofia antiga. Mas eram as ferid

A imagem do Juiz Armando Alencar, o homem de princípios que Leonardo salvara da tirania dos Costello, agora sorrindo em um comunicado à imprensa como o mais novo "consultor de segurança" do Consórcio Sombra, foi uma punhalada no coração de Leonardo. A revelação de Beatriz, momentos antes de embarcarem para Basel, não era apenas uma complicação tática; era uma traição pessoal e profunda que abalou os alicerces de sua já frágil fé na redenção."Ele se vendeu," Leonardo murmurou, a voz rouca, enquanto observava a fotografia de Alencar no tablet de Beatriz, no hangar secreto dos Guardiões da Verdade. O barulho do jato clandestino sendo preparado para a decolagem parecia um eco distante, abafado pela tempestade em sua mente. "O homem que eu arrisquei tudo para salvar… ele se juntou a eles. Ele se tornou um deles." Sabrina, ao seu lado, segurou sua mão com força. Ela via a dor nos olhos dele, uma dor que ia além da raiva, uma dor de desilusão. "Nós não sabemos a história toda, Leonardo," el