Orgulho e Gelo

José dirigia com tranquilidade, o braço apoiado na janela emoldurada pelo frio russo e a mente já mergulhada nos preparativos da viagem com Sofia. Amanda, ao seu lado, observava as árvores cobertas de neve desfilarem pela estrada, em silêncio. Quando chegaram em frente ao colégio, Amanda se despediu do irmão com um sorriso sincero.

— Vai com Deus, Zé. Qualquer coisa, me liga, tá? — Disse, ajustando a alça da mochila.

— Cuida de você, pequena. E não deixa ninguém te irritar — ele piscou, como quem já adivinhava o caos que rondava os corredores daquela escola.

— Eu? Nunca! — Ela riu, fechando a porta e seguindo em direção à entrada coberta de gelo.

No colégio, Amanda era popular. Seu carisma natural e inteligência afiada faziam dela uma presença marcante. Mas ser uma Duarte — mesmo que de coração e não de sangue — também atraía inveja.

Entre os desafetos, Emili era a mais notável. Filha de Carlos, irmão de Augusto, ela ostentava o sobrenome Duarte com arrogância. Estudavam na mesma escola de elite, mas com visões bem distintas de mundo — e de si mesmas.

Na sala, ao ver Amanda entrar, Emili lançou o comentário com a crueldade calculada de quem se achava invencível:

— Olha quem chegou... a queridinha da tia rica. Deve ser difícil viver à sombra de favores, né?

Amanda fingiu não ouvir, colocou a mochila no lugar com calma, e só então virou-se, o sorriso cortante nos lábios:

— Pior mesmo é viver na sombra de pais que te dão tudo... menos educação. Quer trocar de vida? Eu topo.

Algumas risadas ecoaram. Emili enrubesceu, mas nada respondeu. E Amanda voltou-se para frente como se tivesse apenas comentado o tempo.

Na saída, após um dia longo de aulas e olhares cruzados, Amanda seguiu para o ponto onde costumava pegar o táxi. Envolta no cachecol branco que Ana lhe dera no inverno passado, ela apenas queria chegar à empresa em paz. Mas lá estava João.

Escorado no carro preto da família, braços cruzados, expressão de poucos amigos. O sobretudo azul-marinho realçava os ombros largos e o olhar... bem, o olhar não mentia: ele estava incomodado.

— O que você está fazendo aqui? — Perguntou Amanda, franzindo a testa.

— O José me pediu para te buscar. Lembra?

— Eu disse que ia de táxi...

— E eu disse que vinha — respondeu, abrindo a porta. — Entra logo antes que eu mude de ideia.

Amanda revirou os olhos, mas entrou. O aquecedor do carro parecia não funcionar para o clima tenso que tomava conta do interior. O silêncio era incômodo. João mantinha os olhos na estrada, mandíbula travada. Amanda fingia observar a paisagem.

Até que ele falou:

— Você vai mesmo dormir fora de casa três vezes por semana?

— Sim. Vai ser melhor pra mim.

— Você acha mesmo que eu vou confiar em qualquer apartamento de amiga?

— João... você não tem que confiar. Eu que tenho. Já sou adulta, não preciso da sua permissão.

— E você acha que ser adulta é ter 16 anos e sair de casa pra dormir sabe-se lá onde?

— Melhor do que depender de você — ela respondeu, firme, sem desviar os olhos da janela.

João bufou, sem saber se estava mais irritado com a resposta... ou com o fato de ela estar certa.

O restante do caminho foi silencioso, mas o tipo de silêncio que deixa rastros. Quando chegaram à empresa, Amanda desceu sem dizer mais nada. Andou até a entrada com a postura altiva de quem carrega o mundo nas costas — e ainda faz isso de salto alto.

João a observou por alguns segundos antes de arrancar com o carro. Havia algo naquela menina que o deixava completamente fora do eixo. Era irritante. Era admirável. Era perigoso.

Mas uma coisa era certa: aquele era só o começo

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