Confusa, deslocada, envergonhada, Melody sentiu uma mão pousar em seu ombro. O calor do toque atravessou a couraça de vergonha que a envolvia como uma mortalha. A voz suave de Ida veio como um bálsamo inesperado.— Venha, meu bem. Está tudo bem… de verdade.Melody não respondeu. Apenas largou as faixas no chão, como quem larga os escombros de uma guerra silenciosa, e, anestesiada, se levantou. Cada movimento parecia acontecer sob o peso da água. Um cansaço antigo, enraizado em suas costelas, em seus pulsos, em suas têmporas, não dava trégua.— Eu vou lavar a louça — murmurou, não porque fosse necessário, mas porque a rotina era seu último escudo. Se ficasse parada, talvez desabasse, abotoou o vestido com gestos mecânicos e procurou o rumo da tina de louça sem realmente vê-la.O resto do dia passou como um borrão para ela. Movia-se pela casa como uma marionete em silêncio, obedecendo cada tarefa que Ada lhe dava. Jogou fora as faixas — e, com elas, a ilusão de que poderia viver ali imp
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