O teto era sempre o mesmo, mas a forma como ela o via mudava a cada dia.
Melody soltou um suspiro longo, daqueles que pareciam sair direto da alma. Estava cansada de ficar deitada. O corpo ainda doía, sim — especialmente o ombro enfaixado —, mas o tédio era pior. A sensação de estar viva sem agir lhe causava uma inquietação ácida e urgente.
Virou o rosto. A trouxa com seus pertences permanecia onde a haviam colocado: sobre a cadeira, como uma lembrança compacta de quem ela tinha sido. Pelo que podia ver, ninguém havia mexido em suas coisas... até porque, o que haveria ali pra ver?
Aquilo não era uma mala. Era um inventário de sobrevivência.
O quarto era pequeno, mas arejado. A luz entrava filtrada por uma cortina fina, e o cheiro da casa era diferente — madeira antiga, lenha, e algo recém-assado. Aquele cheiro aquecia algo dentro dela.
Não era o cheiro de perfume barato e álcool. Era o cheiro de casa. De família. De segurança.
Ela não poderia jamais se deixar enganar por esses cheiros