Capítulo 7 - Louise

Todas as roupas que eu trouxe na mala estão jogadas na cama. Já experimentei todas as combinações possíveis, mas nada parece certo. Cristian prometeu que não seria um encontro, então não entendo o motivo de tanta ansiedade para encontrar algo perfeito.

Ainda assim, a ideia de impressioná-lo, mesmo que seja apenas para um passeio, é mais forte. Quando penso em desistir, um pedaço de tecido vermelho aparece embaixo da montanha de roupas. Não experimentei nada vermelho ainda, provavelmente deixei essa passar. Puxo a peça para fora e descubro um vestido vermelho, que parece ter o equilíbrio perfeito entre elegância e casualidade. Um sorriso de alívio surge no meu rosto ao me dar conta de que talvez tenha encontrado a opção ideal.

Meu telefone toca e vejo que é uma chamada de vídeo da minha mãe. Atendo sem hesitar, tentando esconder a bagunça do quarto atrás de mim.

- Oi, mãe! - digo, tentando soar descontraída.

Ela sorri ao me ver e logo começa a elogiar.

- Olha só para você, tão linda! Aonde você vai toda arrumada?

Respondo com um sorriso:

- Vou explorar Roma com um colega.

A expressão dela muda ligeiramente, e ela pergunta com um tom de leve preocupação:

- Você está em Roma há apenas 48 horas e já arrumou companhia?

- É só um passeio, mãe. Não se preocupe.

Ela ri.

- Você é impulsiva igualzinha ao seu pai.

Sinto um aperto no peito e um breve silêncio se instala na conversa. Minha mãe percebe a mudança e diz, com um tom de arrependimento:

- Oh, querida, desculpa. Não queria te deixar triste.

Eu respiro fundo, tentando dissipar a sensação de tristeza.

- Não, mãe, está tudo bem. É só que... às vezes é difícil ouvir essas comparações.

- Bom, preciso desligar, tenho um jantar com... - Ela fica em silêncio por um momento, como se estivesse ponderando sobre o que dizer. - Depois te ligo com mais calma, querida. Só quero que você se cuide. Se precisar de qualquer coisa, estou aqui.

- Obrigada, mãe. Eu vou me cuidar. Te amo.

Com um último sorriso, desligo a chamada.

Faltam apenas cinco minutos para encontrar com Cristian. Solto meu cabelo e desço até o saguão do hotel.

Vejo Cristian sentado em uma poltrona à distância, aguardando. Quando ele me vê se aproximar, seus olhos se iluminam e ele parece verdadeiramente admirado.

— Uau, você está incrível... - ele diz, o tom de sua voz carregado.

— Você também não está de se jogar fora.

Cristian veste uma camisa branca impecável, levemente ajustada, destacando seu físico. As mangas estão dobradas até os cotovelos, completando o visual descontraído com calças pretas e sapatos de couro escuro.

— Vamos? — ele oferece o braço de forma cavalheiresca.

Aceito o convite e seguimos a pé até o Ristorante Lusso Aroma. Agradeço por ter escolhido um sandalia baixa para a noite, apesar da distância ser curta, saltos e ladrilhos não são uma boa combinação.

Fico de queixo caído ao perceber que o restaurante tem vista para o Coliseu.

— É maravilhoso — digo, encantada com a paisagem - Melhor dizendo - Com tudo.

— É ainda mais bonito ao pôr do sol. É quase mágico. — Cristian diz sorrindo.

O jantar passa como um borrão, entre risadas e histórias. Cristian relembra uma desastrosa tentativa de preparar um jantar romântico para sua primeira namorada, que terminou em completo caos. Sua maneira de contar torna tudo ainda mais hilário, acabo rindo até lagrimas descerem pelo meu rosto.

Quando as sobremesas chegam, percebo que a noite está se aproximando do fim, mas não quero que acabe. Fazia tempo que não me sentia tão leve e feliz, sem a pressão das responsabilidades ou a necessidade de me esconder atrás de uma fachada. Apenas sendo eu mesma, sem filtros.

— Você fica ainda mais linda quando está rindo — a voz dele é baixa e suave, seus olhos castanhos brilham com intensidade. Ele se inclina levemente sobre a mesa, a mão estendendo-se para limpar algo no canto do meu rosto. O toque é gentil, mas demora mais do que o necessário, eu acompanho o movimento de seus dedos em minha pele. 

Um grunhido quase imperceptível escapa de sua garganta, como se estivesse lutando para manter o controle. Ele mantém o olhar preso ao meu, como se se perguntasse o que fazer em seguida. Mordo o lábio inferior, sentindo a tensão crescer entre nós. Se não houvesse uma mesa entre nós, eu o beijaria.

Que porra, eu o beijaria.

— Eu... — começo, mas minha voz falha. Não sei o que dizer, e isso nunca acontece comigo. Ele ergue uma sobrancelha.

Vejo o movimento de sua garganta enquanto engole devagar, e um suspiro escapa de seus lábios. Abro a boca para falar qualquer coisa, mas tudo o que consigo pensar é em como seria  fácil cruzar essa mesa, puxá-lo pela gola da camisa e beijá-lo, deixando esse desejo queimar cada pedaço de mim.

Antes que eu possa agir, o garçom interrompe, deixando a conta sobre a mesa e quebrando o encanto momentâneo. Sinto o calor subir ao meu rosto e respiro fundo, tentando recuperar o controle da situação.

Cristian passa a língua pelos lábios, como se também estivesse tentando se recompor.

— Posso roubar mais uma hora do seu tempo? — ele pergunta, um sorriso leve curvando seus lábios.

— Hum, claro, sim — respondo, vacilante.

Ele se levanta e oferece a mão para mim.

— Vamos caminhar um pouco.

Aceito sua mão, sentindo o calor da sua pele contra a minha. Meu coração parece querer pular pela boca, e não há jeito de fazê-lo voltar ao lugar.

Cristian me lança olhares rápidos de vez em quando. Só soltamos as mãos para comprar gelato de morango e baunilha — ele demora tanto para escolher o sabor que começo a achar que está tentando decifrar um mapa do tesouro

O som do piano nos envolve quando paramos diante de uma entrada com uma placa tão pequena que mal consigo ler o que está escrito.

Olho ao redor, observando várias salas. O piano diminui aos poucos até desaparecer quando entramos numa sala ampla e isolada, longe das outras

A sala é dominada por uma parede de vidro que revela uma vista deslumbrante da cidade iluminada à noite. Instrumentos estão espalhados pelo espaço — um verdadeiro paraíso para qualquer amante de música.

Me aproximo de um canto onde um violino repousa delicadamente em seu suporte. A vontade de tocar é instantânea e irresistível. Pego o instrumento, ajusto-o sob o queixo. O toque é familiar, reconfortante. Fecho os olhos e deixo a música tomar conta.

A melodia de "Can't Help Falling in Love", de Elvis, começa a fluir no ambiente, suas notas entrelaçadas com a serenidade da sala.

Quando a última nota se dissipa, abro os olhos e encontro Cristian me observando em silêncio. Seu olhar é intenso, cheio de admiração — e algo mais que não consigo decifrar.

— Desculpa, não consegui resistir — digo, sorrindo timidamente, com um leve rubor nas bochechas.

— Isso foi incrível, Scartt — ele responde, voz cheia de surpresa. — Não imaginava que você fosse tão boa. Um passarinho me contou que você gostava de música, mas isso é realmente... uau.

— Um passarinho, é? — respondo, divertida.

Com certeza alguma revista de fofoca que nunca tem assuntos interessante. E sim, eu me incluo nesse tópico.

— Devo ficar preocupada por você me stalkear? — pergunto, piscando para ele.

Seu sorriso se transforma numa gargalhada que vibra por todo meu corpo.

— Você devia se preocupar com muitas coisas, menos com isso — ele diz, ainda rindo.

— Como você soube que eu gostava de música? — insisto, intrigada.

Apesar do sobrenome, raramente apareço em eventos públicos. Para ser produtora, uso um codinome, então, a menos que ele seja amigo de alguém da minha família, dificilmente saberia disso. Ou seja, ou nos conhecemos de algum lugar — ou ele é a porra de um psicopata.

— Prometo que não sou psicopata — diz, defensivo, como se lesse meus pensamentos. — Só um observador curioso.

Cristian tira o celular do bolso e, para minha vergonha, acessa uma rede social antiga minha. Navega pelas fotos antigas, fazendo meu estômago revirar ao lembrar o quanto era patética e sonhadora naquela época.

Alguns segundos depois, vira o aparelho para mim, mostrando um vídeo meu numa aula de canto e instrumento.

— Não é que eu tenha vasculhado a internet pra achar isso — ele diz, com um sorriso leve nos lábios.

— Sinceramente, nem eu esperava que você encontrasse — respondo, tentando esconder o constrangimento da desafinada.

Ele está tão perto que sinto o calor do corpo dele. Meu olhar desliza lentamente por cada traço do seu rosto, para nos lábios, e fico ali, presa num momento que parece suspenso no tempo.

Nunca senti tanta vontade de beijar alguém. Como se um ímã invisível nos puxasse um para o outro, o coração disparado, o mundo ao redor desaparecendo.

Seus olhos descem para minha boca, hesitam. Ele se inclina devagar, nossas respirações se misturam — quentes, suaves, e carregadas de uma tensão quase insuportável.

"Por favor, me beija", suplico em silêncio, o desejo pulsando em cada fibra do meu corpo.

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