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Capítulo 2- Cristian

Meu pai é a pessoa mais bondosa que conheço, e não digo isso apenas por ser meu pai, mas porque é a verdade. No entanto, quando o assunto são negócios, ele se transforma em alguém implacável. Não hesita em arriscar tudo para manter o legado da família intacto. Tenho orgulho de ser seu filho, mas esse orgulho é testado quando suas decisões afetam diretamente a minha vida.

Hoje foi um daqueles dias intermináveis, cheios de discussões, incertezas e pressões que parecem não ter fim.

Eu deveria sentir raiva depois de levar um bolo de uma garota, sentir raiva pelas expectativas que as pessoas estão tendo sobre mim, raiva do mundo.

Mas posso ser sincero?

Esse é o melhor dia da minha vida e  agora, de forma repentina, estou indo para Roma. Sim, assim do nada. Uma das vantagens de ter dinheiro é poder fugir sem grandes planos ou explicações.

Quem dera se fosse fácil assim?  Infelizmente parece que quanto mais dinheiro meu pai ganha, mais ele quer, não julgo esse já sempre foi o plano de vida dele. E para outras gerações usufruir alguém teve que sofrer, pois bem, aparentemente o próximo da lista para o sofrimento sou eu.

Tenho vinte anos, mas sinto que apenas no dia de hoje eu devo ter envelhecido mais ou menos uns vinte anos. Vou envelhecer mais uns dez na próxima hora que meu pai perceber que simplesmente estou me dando um dia de folga.

Roma sempre foi o lugar favorito da minha mãe. Sempre que preciso de um refúgio, um lugar para pensar e me sentir acolhido, é para lá que eu vou. Tenho ótimas memórias de lá. Talvez, no fundo, eu esteja tentando me reconectar com ela. Ou talvez esteja apenas fugindo das responsabilidades que me sufocam, que ultimamente por incrível que pareça, são muitas.

Atônico em pensamentos nada convidativos para uma viagem. Sem querer, esbarro em uma mulher enquanto caminho apressadamente, derrubando algo de suas mãos. Ela reage com certa irritação, sua voz carregada de frustração, até ousou a me xingar, mas consigo entender. Está claro que o dia dela também não está sendo fácil.

Abaixo-me para pegar o papel que caiu, e, ao me levantar, fico completamente sem reação quando nossos olhos se encontram. Seus olhos cor de safira contrastam com os cabelos escuros, que caem em ondas suaves, emoldurando um rosto delicado, marcado por cansaço. Sua pele clara reluz sob a luz do ambiente, o tomate teria inveja do tom vermelho de suas bochechas - talvez resultado do nosso encontro inesperado.

Temos uma breve interação, claramente desconfortável para ela. Entrego-lhe o papel, e, quando nossas mãos se tocam por um instante, há uma faísca sutil no ar.

Fico parado, observando-a se afastar. Um sorriso bobo surge no meu rosto, e, por um momento, me sinto estranho por estar tão encantado com uma pessoa que acabei de conhecer. Mas não consigo evitar.

Como eu disse, o melhor dia da minha vida.

Os alto-falantes anunciam meu voo, me trazendo de volta à realidade. Acelero os passos, percebendo que estou quase atrasado para o check-in. Passo pela segurança e sigo para o portão de embarque. Fico feliz quando encontro meu assento. é exatamente ao lado da mulher que, minutos antes, se apresentou como "não te interessa".

Se isso não é um sinal do destino para nós, não sei mais o que deveria ser.

Sento-me ao seu lado e, antes que consiga me conter, solto uma piada. Ela revira os olhos sem dizer nada, mas não consigo ignorar o leve brilho divertido que surge em seus olhos safira. Meu coração acelera, e uma vontade inesperada de ouvir mais da sua voz me invade.

Ela parece determinada a me ignorar, mas tento iniciar uma conversa.

- Eu sou bom de conversa, você vai ver - digo com um sorriso leve, tentando quebrar sua resistência.

Ela me lança um olhar fulminante, como se estivesse me estrangulando mentalmente. E, de alguma forma, isso só me deixa mais fascinado.

O avião decola.

Não sou tão inconveniente quanto parece, depois do meu fracasso em puxar conversa, o silêncio se instala entre nós. E vinte minutos depois,  exatamente vinte minutos depois, ela já está apagada como um urso hibernando . Aos poucos seu corpo vai se aproximando até sua cabeça está apoiada em meu ombro. Por impulso, passo o braço ao redor dela, e ela se aconchega no meu peito, respirando profundamente.

"Que porra eu tô fazendo?" penso, mas não consigo afastá-la. O calor que emana dela é reconfortante, e algo em mim se recusa a interromper o momento.

Parece tão certo.

Tem grandes chances quando ela acordar me considerar um pervertido ou talvez um homem morto. E ela não estaria errada.

Minha cabeça esquece de raciocinar as  coisas, deveria me preocupar com essa neblina embriagante da minha mente.  Mas não estou raciocinando nada mesmo.

Pelos céus.

Sem perceber, também acabo adormecendo.

Quando acordo, minutos antes da aterrissagem, ela ainda dorme, relaxada contra mim. Para dormir assim, deve estar exausta há dias. Uma mecha de cabelo cai sobre seu rosto, entrando levemente em sua boca entreaberta. Com cuidado, coloco-a atrás da orelha, roçando os dedos em sua pele macia.

Um som estranho escapa dos meus lábios, um misto de surpresa e... algo mais que prefiro não nomear.

Ela se mexe, ajustando o corpo ainda mais no meu, mas não acorda. O cheiro adocicado dela lembra algo perto do lar, tenho certeza que é cereja. E esse passou a ser meu cheiro preferido a partir deste momento. Fico parado, observando-a, com o coração completamente fora de ritmo. 

Eu devo ter batido a cabeça em algum momento antes de sair de casa, eu não posso está cogitando uma história de amor em minha cabeça por uma desconhecida, que por sinal não me deu bola nem sequer por um segundo.

Hunf, é isso. Eu realmente devo ter batido com a cabeça.

Acho que eu deveria ir ao médico assim que eu estiver em terra firme, não estou em minha completa faculdade mental.

Tento acordá-la cutucando seu ombro delicadamente, ela resmungou,  puxando meu braço livre para sua cintura, pelo menos agora fechou a boca.

E eu estou entrando em um colapso cardíaco, mental e corporal, se ela continuar mais dois segundos nessa posição, eu terei que pedir uma ambulância direto na pista de pouso.

— Moça... — sussurro, sem muita convicção, tentando preservar aquele frágil equilíbrio entre o desconforto e a magia do momento.

Nada.

Nada.

Coço a garganta involuntariamente.

Percebo que já estamos em solo quando vejo as pessoas levantando apressadamente para sair em busca de ar apropriado.

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