É mesmo o destino
É mesmo o destino
Por: Layra Heil
Capitulo 1 - Louise

Estou me olhando no espelho há pouco mais de dez minutos. A visão é realmente espetacular – não que eu seja convencida quanto à minha aparência, mas posso afirmar: é uma visão espetacular.

Um vestido de seda azul, com decote em V, desce até os meus pés, marcando cada curva do meu corpo. Meu cabelo está preso em um coque elegante, destacando meus olhos, que são tão azuis quanto o vestido.

Apesar de toda a beleza que vejo, não consigo esconder a minha cara emburrada. Afinal, não há motivo para sorrir quando estou sendo obrigada a noivar – ou melhor, casar – com um completo desconhecido pelo bem da fortuna da minha família. Reviro os olhos só de pensar nisso.

A cada minuto que se aproxima da apresentação, mais meu peito aperta com o vazio do erro que estou prestes a cometer.

Eu deveria sair correndo, sem olhar para trás, e esquecer tudo isso. Mas meu pai prometeu que, se eu congitasse fazer isso isso, nunca mais veria minha mãe – além de me tirar do testamento.

Bom, é melhor não arriscar, nem tanto pelo testamento, mas pela minha mãe, meu ponto fraco.Sei muito bem  que meu pai não brinca com as palavras. 

De todas as pessoas do mundo, ele escolheu justo Noah Wills para eu me casar. Na verdade, essa infelicidade devo agradecer a minha queria e falecia avó Marta.

Que deixou claro no contrato da herança que eu deveria me casar aos  vinte e cinco anos, de preferência com alguém da família Wills. Acredito que sempre planejaram isso, por algum motivo que nunca me foi revelado. Quando perceberam que eu seria a única herdeira da linha de sucessão, quiseram garantir que eu continuaria a linhagem. Os Wills pareciam a escolha perfeita para manter o sangue e o poder da família.

Infelizmente de insuficecia cardiaca um pouco mais de um ano. E suas ultimas palavras foi extamanete " você vai ser muito feliz com Noah minha querida, eu sei disso"

É eu sei, dificil acredita né? Mas extamente assim.

Ela costumava dizer que o amor nunca é perfeito; ele tem a capacidade de florescer nas circunstâncias mais improváveis e que nunca entenderemos o porquê.

Agarro essas palavras como um mantra. Talvez eu possa gostar de Noah com o tempo?

Bufo, é claro que isso nunca vai acontecer.

Noah Wills. O nome ecoa na minha cabeça como uma maldição. Ele é um estranho para mim, mas não para o mundo dos negócios: famoso, implacável e, segundo os rumores, com um coração de mármore, igual ao do seu pai, Martins Wills.

Todos o respeitam, mas ninguém parece conhecê-lo de verdade. O que sabem sobre ele? Apenas o que os jornais publicam ou os sussurros que as pessoas comentam em festas . E tudo isso é meio incerto, já que nunca tem fotos dele nas reportagens – e olha que eu procurei. É irônico. Como alguém com esse sobrenome consegue se manter tão oculto das câmeras?

Dou uma risada, minha familia também tem nome, e se tem uma coisa que as revistas nunca tem, é uma foto minha.

Falta apenas uma hora para anunciar o noivado – uma hora para que eu me torne oficialmente parte de alguém que não escolhi. Cada minuto aumenta minha frustração.

Ouço uma batida leve na porta antes que ela se abra, revelando minha mãe, como sempre, sorridente.

– Você está linda, querida – diz ela em um sussurro doce.

Ela me olha com carinho antes de se aproximar para um abraço apertado. Como eu amo quando ela faz isso.

– Como você está se sentindo? – pergunta.

– Como se estivesse a ponto de pular de paraquedas em um casamento de conveniência.

– Você sabe que não precisa fazer isso agora, né? – diz, seus olhos encontram os meus, derrubando todas as barreiras que ergui para fingir que estou bem.

– Eu preciso fazer isso, mamãe – suspiro. – Não quero que papai cumpra o que prometeu – digo, com a voz carregada de frustração.

– Seu pai nunca faria isso, e você sabe muito bem.

Se eu ainda fosse criança, talvez acreditasse. Naquela época, eu era a princesa dos olhos dele. Não havia um só dia em que ele não demonstrasse orgulho por mim. Mas os anos passaram, as responsabilidades aumentaram e, aos poucos, ele se afastou. Não a ponto de nos tornarmos completos estranhos, mas o suficiente para que o dinheiro e os negócios passassem a importar mais que a minha felicidade.

Este casamento é o reflexo disso. Não é sobre amor ou felicidade – é sobre legado. .

– Você sabe que as coisas não são tão simples assim – murmuro, hesitante.

– Eu sei. Também sei que você  precisa se casar exclusivamente com alguém da família Wills.  Eles tem uma filha, sabia? — Ela brinca — Ainda tem um tempinho antes dos vinte e cinco. – Ela pausa. – Você não precisa decidir isso agora, Lou.

Mamãe levanta meu queixo gentilmente, forçando nossos olhos a se encontrarem. Em seguida, coloca um papel em minhas mãos. O sorriso suave e encorajador contrasta com o brilho contido em seus olhos.

– De qualquer forma, deixei sua mala pronta, em caso de imprevistos. Te amo, querida.

Ergo uma sobrancelha, observando-a se afastar até desaparecer de vista, me deixando sozinha. Meus olhos caem sobre o papel em minhas mãos, e um sorriso começa a se formar quando percebo que se trata de uma passagem com partida para Roma, em algumas horas.

Não penso duas vezes, pego a mala, chamo um uber e saio sem falar nada com ninguém.

Sinto meu estômago revirar, ameaçando devolver a única refeição que consegui fazer no dia.

O arrependimento começa a pairar quando checo o celular e vejo mais de dez ligações perdidas do meu pai. 

Bom, tenho certeza de que atendê-lo não mudaria nada em relação ao casamento, tampouco amenizaria a raiva que ele deve estar sentindo. Ignoro o peso na consciência e mantenho firme minha decisão. Mais tarde, eu encaro o estrago que causei – por agora, só preciso ir para longe.

E meu telefone continua apitando localmente, agora com mensagens de Helena me chamando de vaca traidora, por não ter compartilhado meu plano. Amigas, sempre invasivas.

A sensação de náusea é quase insuportável. Enquanto luto para não sucumbir ao mal-estar, um senhor atrás de mim começa a me xingar furiosamente por ter parado feito uma estátua no meio do caminho. Peço desculpas, mas ele me ignora e continua resmungando até sumir da minha vista.

Olho mais uma vez para a passagem, o coração acelerado, confirmando o horário do embarque. O voo sai em vinte minutos e ainda não passei pelo check-in.

Me perco em pensamentos, tentando focar no caminho à frente. Pergunto-me se, de alguma forma, estou fazendo um favor ao meu suposto noivo também. O casamento foi arranjado pelos nossos pais e avós, sem nosso consentimento. Talvez ele também esteja preso a essa situação. Fugindo, posso estar oferecendo a ele a chance de  perceber que sou a pior escolha da vida dele.

Acelero o passo, tentando não perder mais tempo com meus pensamentos turbulentos. "Hoje eu não vou sentir a fúria do meu pai. Não vou mesmo". prometo a mim mesma.

Sinto um impacto forte que me desequilibra, fazendo a passagem cair ao chão. O susto me arranca um palavrão involuntário.

– Olha por onde anda, cacete! – esbravejo, mais raivosa do que pretendia.

– Calma, furacão, não foi intencional – responde uma voz masculina, descontraída.

Nos abaixamos ao mesmo tempo para pegar a passagem. Nossos olhares se encontram e ficamos parados, como se o mundo tivesse desaparecido.

Ele é surpreendentemente bonito. O cabelo castanho-escuro cai levemente sobre a testa. Seu rosto tem traços marcantes, e ele exibe um sorriso sutil que faz o tempo desacelerar.

Nossos dedos se tocam ao pegar a passagem, e uma descarga elétrica percorre o ponto de contato, provocando uma sensação de formigamento onde ele me tocou.

Quase começo acreditar estou em uma cena daqueles filmes clichê de romance  que todo mundo ama e ninguém nunca viu na vida real.


– Eu tenho nome – digo, tentando recuperar o controle e ignorar o quanto ele é atraente.

– E posso saber qual é? – pergunta, exibindo um sorriso encantador. Não é um sorriso qualquer. É aquele tipo que revela covinhas e ilumina os olhos de um jeito que atordoa a alma.

– Não te interessa – respondo, apertando a passagem com mais força do que o necessário.

– Te vejo por aí, "Não te interessa" – ele responde, com um tom brincalhão.

Reviro os olhos com a piadinha sem graça e me afasto, mas ainda noto que ele continua sorrindo.

Respiro aliviada ao entrar no avião. Encontro meu lugar junto à janela e me sento, observando o movimento da cabine enquanto os passageiros embarcam. As conversas suaves e os sons do embarque criam um ambiente tranquilo – até que o ar do pulmão resolve escapar de uma só vez sem volta.

O homem que esbarrou em mim minutos antes está entrando no avião. Meu coração dispara como um tambor de escola de samba. Uma onda de nervosismo percorre minha espinha.

Ele caminha pelo corredor com um passo descontraído, os olhos vasculhando os números dos assentos. Não pode ser...

"Por favor, não sente ao meu lado. Por favor, não sente ao meu lado", murmuro baixinho, quase como um mantra. Mas é claro que o destino adora brincar comigo. Com um sorriso travesso, ele para exatamente ao meu lado.

– Parece que este é o meu lugar – diz, colocando a bagagem de mão no compartimento antes de se sentar. – Isso foi mais rápido do que eu esperava, não é mesmo, 'Não te interessa'?

Ranjo os dentes. Ele se acomoda com uma tranquilidade quase desdenhosa, como se não houvesse lugar mais interessante no mundo.

– Você é sempre assim, tão... engraçado? – pergunto, ácida.

– Você me acha engraçado?

Reviro os olhos e bufo, lutando contra o desejo de arrancar aquele sorriso com as unhas.

Ele solta uma risada suave, que vibra como uma melodia. Fala mais algumas coisas que causam o mesmo efeito em mim.  Olhos revirando, ignorância , sombra de um sorriso e muitos, muitos olhares que percebi que não são nada discretos.

Tempo depois, o avião decola.

E estou achando que vou surtar antes da primeira hora de voo.

Continue lendo este livro gratuitamente
Digitalize o código para baixar o App
capítulo anteriorpróximo capítulo
Explore e leia boas novelas gratuitamente
Acesso gratuito a um vasto número de boas novelas no aplicativo BueNovela. Baixe os livros que você gosta e leia em qualquer lugar e a qualquer hora.
Leia livros gratuitamente no aplicativo
Digitalize o código para ler no App