O mercado do bairro era pequeno, mas barulhento. Carrinhos se esbarrando nos corredores apertados, o som abafado de embalagens sendo abertas, crianças chorando por doces e promoções sendo anunciadas por caixas de som chiadas. Para qualquer um, aquilo seria apenas mais um sábado qualquer. Mas para Lucas Valdez — ou, como ele se reconhecia agora, apenas uma sombra — aquele era o início do fim de sua contenção.
Ele passou os dedos trêmulos pela prateleira de pães, pegando um pacote qualquer, só para parecer natural. Suas mãos estavam suadas. O suor não vinha do calor abafado nem da fila longa — vinha dela. Luana. Ela estava ali, apenas alguns metros à frente, de moletom cinza e jeans simples, com o cabelo preso de qualquer jeito. Ela comparava preços de cereais como se fosse apenas mais um dia de sua vida. Para ele, era um colapso interno.Desde a noite em que invadira sua casa — uma ação que quase custou sua liberdade — Lucas havia se mantido mais distante. A polícia