Capítulo 94 — Vozes que Quebram
A sala de interrogatório tinha o ar frio da madrugada dentro de si. A lâmpada pendurada no teto lançava um círculo duro de luz sobre a mesa metálica; o resto do cômodo permanecia em sombra, como se o anonimato desse segurança aos segredos que vinham à tona. O homem capturado no galpão — aquele que Helena reconhecera como um dos velhos aliados de Fernando — estava afastado num canto, encharcado de suor, mas ainda arfando orgulho bruto. Na face havia restos de lama e cinzas; nos olhos, o desafio inicial que recuara aos poucos.
Miguel permaneceu ao lado da porta, firme; Rafael, a caneta pronta, preparava o bloco; Clara, ainda com o hematoma no rosto, observava cada gesto do prisioneiro. Helena entrou lentamente, respirando fundo. Não queria que a voz dela tremesse. Queria ouvir. Precisava ouvir.
O interrogatório começou seco, com perguntas objetivas, quase clínico. — Nome? Ligações? — Miguel pediu. O homem resistiu com a arrogância dos acostumados ao violê