Capítulo 71 – O Eco das Sombras

A noite era densa, como se o próprio céu tivesse fechado as cortinas para esconder aquilo que não deveria ser visto. O vento soprava forte entre os becos da cidade, carregando lixo, poeira e sussurros distantes. Dentro de um galpão abandonado, longe dos olhos da lei, Ricardo se movia como um espectro, sua figura marcada pelas feridas da vida e pelas cicatrizes que agora o transformavam em algo quase monstruoso.

Ele caminhava lentamente, a sombra de sua silhueta projetando-se contra a parede quebrada, revelando o contorno de um homem mutilado: o braço esquerdo já não existia, substituído por um vazio que parecia latejar a cada lembrança de derrota. O olho direito estava coberto por uma faixa escura, ocultando o vazio que ele nunca mais veria. Mas em sua única visão restante brilhava um ódio incandescente, vivo, queimando como brasas em carvão.

Ricardo parou diante de um espelho quebrado, apoiado num canto do galpão. Olhou para o reflexo e deixou escapar