O sol mal iluminava a cidade quando Helena já estava em pé, sentindo o peso da noite anterior nos ombros, mas determinada. Agora, não havia mais espaço para hesitação. O luto havia se transformado em raiva calculada, e a dor em determinação. Cada descoberta sobre Daniel tinha inflamado um fogo interno: a mulher que chorava agora se tornava uma investigadora obstinada, pronta para enfrentar todos os segredos que ele havia deixado para trás.
O primeiro alvo era Mariana. Helena sabia que precisava dela para obter detalhes mais diretos sobre os encontros, os negócios e as manipulações de Daniel. Mas não seria um encontro casual. Helena planejou cuidadosamente cada passo: o local, a hora, o tom da conversa, a forma de obter informações sem causar pânico ou desconfiança.
Quando se encontraram, Mariana estava visivelmente nervosa. O olhar de Helena era firme, carregado de autoridade e dor.
Relutante, Mariana começou a falar. Contou sobre festas clandestinas, encontros pagos, chantagens contra pessoas influentes, e como Daniel manipulava cada situação para manter controle absoluto. Cada palavra aumentava a raiva de Helena, mas também lhe dava clareza. Daniel não era apenas um traidor; era alguém que vivia de manipulação, poder e luxúria, explorando mulheres e homens igualmente.
Enquanto Mariana falava, Helena fez anotações meticulosas. Cada detalhe poderia ser usado para confrontar outros aliados, para proteger possíveis vítimas, e para reconstruir o verdadeiro alcance da vida oculta de Daniel. Mas o que realmente a chocou foram os relatos sobre a participação de Daniel em atos imundos que misturavam sexo, dinheiro e chantagem, algumas vezes envolvendo figuras influentes que ninguém jamais suspeitaria.
Depois do encontro, Helena voltou para casa com a mente acelerada. Organizou todas as informações, comparando com os documentos que já tinha. A linha do tempo se completava, revelando padrões: encontros, transferências de dinheiro, alianças manipuladas, chantagens planejadas. Daniel havia controlado e explorado pessoas de maneira meticulosa, e Helena estava agora no centro de toda essa rede de segredos.
Sabia que não podia parar. Precisava confrontar André novamente. Ele havia fornecido informações importantes, mas algumas peças ainda não se encaixavam. Helena o chamou sob pretexto de revisar documentos de negócios, mas seu objetivo era claro: pressioná-lo para revelar qualquer detalhe que pudesse ter omitido.
— André, precisamos ser claros. Não estou aqui para ameaçar, mas para entender — disse Helena, olhando diretamente nos olhos dele. — Cada detalhe que você omitiu pode mudar tudo. Agora é hora de ser honesto.
André hesitou, mas a firmeza no olhar de Helena o fez ceder. Ele revelou mais sobre contas secretas, sobre como Daniel manipulava contratos, desviava dinheiro e usava aliados como escudo para suas ações. Alguns desses aliados nem sequer sabiam o papel que desempenhavam; outros participavam conscientemente, atraídos por promessas ou medo. Helena sentiu uma mistura de horror e clareza: cada segredo imundo de Daniel agora estava se revelando, e a teia que ele havia construído era ainda mais complexa e perigosa do que ela imaginara.
Com essas informações, Helena decidiu agir de maneira estratégica. Sabia que confrontar diretamente todos os aliados seria arriscado, mas precisava fazer com que cada um se comprometesse a revelar a verdade, ou pelo menos não atrapalhar. Organizou provas, fotografias, gravações e documentos em pacotes separados, com planos claros de quem confrontar primeiro e de que forma.
A primeira ação prática foi confrontar um intermediário de Daniel, alguém que administrava os encontros e pagamentos clandestinos. Helena se encontrou com ele em um café discreto, mantendo uma postura calma, mas inabalável.
O intermediário engoliu em seco, visivelmente assustado. Helena não precisou dizer mais nada. A presença firme, a evidência nas mãos e a clareza de propósito foram suficientes para pressioná-lo a colaborar. Ele revelou detalhes sobre transferências de dinheiro, locais de encontros, nomes de mulheres e homens envolvidos, e até como Daniel havia coagido algumas pessoas em posições de poder. Helena anotou cada detalhe, sabendo que essas informações eram vitais para confrontar outros aliados e entender a extensão total das atividades de Daniel.
No fim do dia, Helena estava exausta, mas não derrotada. O que começou como luto profundo agora se transformava em força calculada. Cada segredo imundo de Daniel revelado aumentava a clareza sobre quem ele realmente era, e cada aliado confrontado reforçava a determinação de Helena em não deixar sua memória ser manipulada ou deturpada.
Enquanto organizava todas as provas e relatos, Helena percebeu que estava pronta para o próximo passo: não apenas descobrir e catalogar os segredos, mas começar a planejar a exposição completa de Daniel, garantindo que toda a verdade fosse revelada, mesmo que para isso precisasse enfrentar perigos ainda maiores. O homem que ela amava — ou acreditava amar — estava completamente desmoronado em sua imagem, e Helena, marcada pela dor, estava se tornando a arquiteta da verdade, pronta para enfrentar cada sombra do passado e cada aliado cúmplice.
No silêncio da noite, Helena respirou fundo. A raiva ainda pulsava, o luto não havia desaparecido, mas algo mais poderoso crescia dentro dela: uma determinação inabalável de enfrentar os segredos mais sujos de Daniel, de buscar justiça e de recuperar, de alguma forma, o controle de sua própria vida. O homem que um dia ela amou tinha revelado sua verdadeira face — e Helena não recuaria diante dela.