Não sabia se me sentia aliviada ou decepcionada por ter apenas uma aula com o homem em quem esbarrei mais cedo. Agora, sentada no sofá do apartamento, repassando mentalmente cada momento do dia, concluí que talvez isso fosse até uma coisa boa.Eu não vim para Londres para me apaixonar. Vim para estudar. Consegui uma vaga em uma das melhores universidades e, graças à ajuda da Julia e do seu irmão, também conquistei um emprego. Um envolvimento amoroso só complicaria tudo.- Alice, tenho uma proposta pra você. Eu sei que você acabou de chegar, que não tem esse perfil de baladeira, mas essa é uma ótima oportunidade pra conhecer mais lugares. Além do mais... - Julia começou, e eu já sabia onde ela queria chegar. Há dois dias ela falava da tal festa. Só que eu... eu nunca fui de festas. Sempre fui a garota enclausurada, criada longe de tudo. Lugares com muitas pessoas, música alta e cheiro de álcool me causavam desconforto. Além disso, fui criada por freiras. O espírito festeiro nunca fez p
- Estou bem, só... preciso ir ao banheiro - falei, forçando um sorriso que até para mim soou amarelo.Só então notei que Julia não estava mais por perto. Meu impulso era procurá-la, dizer que queria ir embora, mas nem coragem eu tinha de confessar isso a Pierre. O banheiro foi apenas uma desculpa - uma saída estratégica para escapar daquela situação que me deixava cada vez mais desconfortável.Ele assentiu educadamente e apontou a direção. Segui, mas nem cheguei a entrar. O ar ali dentro parecia pesado, abafado... e quando percebi que o corredor do banheiro era próximo da saída, fui atraída por ela como por instinto. Antes de sair, me virei discretamente para ter certeza de que Pierre não estava olhando. Então, respirei fundo e atravessei a porta.O vento frio da noite me atingiu de forma revigorante, como um banho de realidade. O barulho abafado da música lá dentro ainda chegava aos meus ouvidos, mas do lado de fora tudo parecia mais... real. Respirei fundo, tentando encontrar um pou
Giovanni ManciniO nascer do sol em Alessandria sempre me pareceu o mais bonito do mundo. Talvez porque eu nunca tenha visto outro com os mesmos olhos, ou porque em nenhum outro lugar haveria o corpo quente de Polina entre os lençóis ao meu lado.Sua beleza completava a cena de forma quase cinematográfica. Nem a neblina suave da manhã conseguia ofuscar o brilho que emanava dela. Eu a observava como quem contempla um milagre, completamente hipnotizado, preso àquele momento como um tolo apaixonado.E eu era, sim, um tolo. Um bobo completamente rendido por amor. E não tinha vergonha disso. O amor trazia consigo uma estranha mistura de força e fragilidade. Ele nos deixava sensíveis ao menor gesto, nos fazia enxergar beleza nas pequenas coisas - como assistir o dia amanhecer ao lado de quem se ama.Mas algo começou a mudar. O céu, que deveria clarear, escurecia. O sol se apagava. E Polina... Polina desapareceu. De repente, eu estava sozinho na varanda da nossa casa.Levantei-me, alarmado,
- Senhor Giovanni, hoje começa meu aviso prévio. Eu só queria lembrá-lo de...- Não se preocupe, Tônia. Já estou cuidando disso - respondi com calma, interrompendo-a antes que ela ficasse ainda mais aflita com sua aposentadoria.Tônia trabalhava nesta empresa há muitos anos. Começou como secretária e, depois, tornou-se assistente do meu padrinho. Quando assumi os negócios, não quis mudar absolutamente nada. Na verdade, Tônia era a única pessoa em quem eu confiava plenamente. Ela era, de certo modo, como uma mãe.Ela me lembrava a minha mãe. E me tratava como tal, com conselhos firmes e broncas carinhosas. Claro, Tônia não fazia ideia dos meus planos. E era melhor que nunca soubesse. Ela era boa demais, pura demais para aceitar algo tão sombrio quanto o que eu estava fazendo. Sua saída representava, ao mesmo tempo, um alívio e uma perda dolorosa.- Você precisa de alguém jovem, rápida... e inteligente. Não é fácil acompanhar seu ritmo. Muito menos arrumar a sua bagunça - disse com aque
Alice GiordanoEu sabia - com todas as letras - que ainda era imatura. Não entendia muito bem como as coisas funcionavam no mundo real, especialmente na vida de uma mulher adulta. Era fácil culpar meu pai por isso. Mas, sendo honesta comigo mesma, eu também tinha parte nessa responsabilidade.Sempre que alguém se aproximava com intenções diferentes das de uma simples amizade, tudo em mim se retraía. Eu me sentia fora do meu próprio corpo, como se estivesse interpretando um papel que não ensaiei. Minha mente travava, o coração acelerava, e eu simplesmente não sabia o que fazer.Era evidente que, mais cedo ou mais tarde, eu teria que amadurecer e aprender a lidar com esse tipo de situação. Mas saber disso não tornava mais fácil o fato de que, até agora, eu ainda reagia como uma menina assustada em um corpo de mulher.Desde a noite anterior, quando conheci Giovanni Harris, não consegui tirá-lo da cabeça. Cada palavra dita, cada olhar trocado... até mesmo o perfume que ele usava ainda par
Uma semana depoisA semana passou como um vendaval. Mal percebi os dias escorrendo entre os dedos com tantas tarefas da faculdade, do trabalho, e o tempo que passei com Julia. Tudo aconteceu de forma tão intensa que parecia que a rotina havia me engolido por completo.Desde a conversa com Daniel, seu irmão, venho observando Julia com mais atenção, tentando captar qualquer sinal de mudança no comportamento dela. Em tão pouco tempo, criei um carinho enorme por aquela garota. Desde que cheguei, ela me acolheu com uma alegria quase contagiante, me mostrou os encantos de Londres, dividiu seu lar e ainda me arrumou um excelente trabalho de meio período.Nunca tive alguém fora da minha família - além de Sara - que tivesse feito tanto por mim. Por isso, quis retribuir, mesmo que de forma discreta, certificando-me de que o homem com quem Julia estava saindo era realmente alguém com boas intenções.Julia era extremamente comunicativa. Falava de tudo, ria com facilidade, mas quando o assunto era
Giovanni ManciniQuanto mais o tempo passava, mais crescia dentro de mim o desejo de vê-la novamente. Mas não como antes, à distância, me escondendo nas sombras. Queria estar perto o suficiente para tocá-la, olhar diretamente em seus olhos e observar de perto a inocência crua que existia em seus gestos e reações.Sem perceber, me vi mergulhado de cabeça nessa loucura - seduzir Alice Giordano. Ela era fascinante. Nenhuma mulher, em cinco anos, havia conseguido me desestabilizar a ponto de me forçar a saber cada passo seu, com quem conversava, como estavam suas notas na universidade... Eu, Giovanni Mancini, me tornara obcecado.Era insuportável. E foi exatamente essa obsessão que me fez cometer mais uma loucura - uma que eu não sabia se daria certo ou se arruinaria tudo.Procurar Daniel Rodrigues pessoalmente e propor aquilo era imprudente. Ele poderia muito bem abrir a boca, contar tudo a Alice, destruir o plano meticulosamente arquitetado que construí desde o dia em que a vi. Mas minh
Alice GiordanoA animação que me acompanhou durante toda a semana desapareceu no instante em que Daniel me comunicou sobre minha demissão. Por mais que eu tentasse não demonstrar, a notícia me afetou. Sabia que, se não fosse pelas despesas da faculdade da Julia, ele jamais teria tomado essa decisão. E por isso, eu não podia - e não queria - ficar chateada com ele.Não deixei que minha tristeza transparecesse diante dele. Daniel parecia tão desconfortável quanto eu. Mas assim que cruzei a porta da confeitaria, abaixei a cabeça, os ombros tombaram e uma tempestade de pensamentos me dominou."E agora, o que eu vou fazer?"O pouco que ganhei nos dias que estive ali ajudaria a complementar o dinheiro que eu já tinha guardado. Daniel, gentil como sempre, quis me pagar um valor maior pela saída inesperada, mas eu recusei. Se ele já estava com dificuldades, não seria justo levar mais do que merecia. Afinal, eu nem tinha completado um mês naquela vaga.Atravessei a rua sem ânimo, arrastando os