Tudo… tudo doía.
Giulia
A casa estava mergulhada em sombras quando fechei a porta.
O clique da fechadura pareceu alto demais. Invasivo.
Me apoiei contra a madeira por um instante, os olhos fechados.
Tentei respirar.
Não consegui.
A ausência da mamma era um eco constante em cada canto.
O sofá onde ela gostava de dobrar as roupas.
A poltrona em que dormia vendo novelas velhas.
O cheiro do chá que ela fazia com ervas do quintal.
Tudo… tudo doía.
Marco tinha insistido em me deixar com Serena, mas eu preferi voltar.
Disse que precisava dormir. Mentira.
Eu só queria silêncio.
Mesmo que o silêncio estivesse me matando.
Andei até a sala com passos lentos, como se o chão pudesse ceder sob meus pés.
A luz fraca da luminária deixava a casa com cara de santuário.
Um santuário de perda.
Sentei no sofá, abracei as próprias pernas.
Meu casaco ainda cheirava a chuva, a cemitério, a despedida.
Fechei os olhos, e o rosto da mamma apareceu.
Sorrindo.
Fraca, mas viva.
O choro veio sem aviso.
Pesado. Soli