Palermo, início de outono
O cheiro do mar em Palermo era diferente do de Siracusa. Mais salgado, mais áspero. Como se o vento soprasse com uma urgência que Serena não sabia nomear. Na calçada irregular diante da antiga estação de trem, ela respirou fundo e sentiu que não pertencia a lugar algum — ainda.
Atrás de si, uma mala pequena. Dentro dela, o que restou de uma vida que ela não teve coragem de continuar. Um luto que não era feito apenas de morte, mas de abandono, de decepção, de promessas que nunca aconteceram. Serena não falava muito sobre isso. Não era do tipo que se derramava. Preferia observar, ouvir, sentir.
E naquele momento, tudo que conseguia sentir era cansaço.
Giulia a esperava do outro lado da rua, sorrindo como se o mundo ainda pudesse ser gentil. Serena cruzou lentamente, tentando disfarçar a dor nos pés — e no peito.
— Você está mesmo aqui — disse Giulia, abraçando-a com força. — Bem-vinda a Palermo.
Serena fechou os olhos e deixou-se envolver. Era estranho como um