4 - A Verdade

O silêncio dentro do escritório era denso, quase sólido.

Clara permaneceu à porta, confusa, com o coração batendo no próprio ritmo do terror.

Leonardo — ainda com o rosto que ela acreditava ser o de Vinícius — deu um passo à frente.

— Clara, eu… preciso te dizer—

Suzana cortou imediatamente:

— Leonardo, deixe comigo.

A palavra atingiu Clara como uma pancada.

Ela piscou, atordoada.

— Leona… do? — repetiu, a voz falhando. — Por que você chamou ele assim? Quem é Leonardo?

Ela olhou para o homem à sua frente, procurando nele qualquer centelha de negação, qualquer sorriso, qualquer explicação.

— Você… — o ar faltou por um instante — …você não é o Vinícius?

Ele abriu a boca, mas não conseguiu falar. Era como se a própria culpa o segurasse pela garganta.

Suzana avançou antes dele:

— É exatamente por isso que precisamos conversar.

— Como assim?! — Clara deu um passo para trás, o peito subindo e descendo rápido. — Eu me casei com você! Eu… eu achei que você era o Vinícius! Isso é um absurdo, isso é— isso é alguma brincadeira?

Ninguém respondeu.

Leonardo baixou os olhos.

E isso, isso foi o que mais doeu.

Clara sentiu algo rasgar dentro dela.

— O que está acontecendo? — sussurrou, quase sem voz. — Por que você… por que você me deixou acreditar que era outra pessoa? Que seu nome era Vinícius?

Suzana então assumiu o centro da conversa com a frieza que parecia natural para ela.

— Clara, eu entendo sua confusão. Mas agora precisamos que você mantenha a calma para entender tudo que está acontecendo.

— Calma? — Clara arfou, incrédula. — Eu não sei nem quem está na minha frente!

Suzana inclinou a cabeça, suave como veneno.

— Este homem… — tocou o braço de Leonardo com falsa delicadeza — …não é Vinícius Albuquerque.

Este é Leonardo Albuquerque, o irmão de Vinícius.

Clara levou a mão à boca, o mundo girando.

— O irmão…? — repetiu, como se as palavras não coubessem na boca dela. — Então por que… por que você se casou comigo usando o nome do Vinícius? Por que se passou por ele? Por que me enganar assim?

Leonardo ergueu o olhar, finalmente mostrando a ruína em seus olhos.

Ele tentou falar.

— Clara, deixa eu explicar… eu juro que—

Suzana cortou novamente.

— Leonardo. Não é sua vez.

Clara deu mais um passo para trás, o corpo inteiro tremendo.

— Eu… não estou entendendo nada. — a voz dela quebrou. — Nada disso faz sentido. Por quê? Por quê?

E só então, quando a fundação da identidade dela desmoronou, Suzana começou a preparar o terreno para a mentira sobre Vinícius.

Suzana suspirou, como se carregasse um fardo impossível.

— Clara… — disse com uma calma que não combinava com nada naquela sala — …você tem o direito de saber. Tudo isso aconteceu porque Vinícius não é quem você pensa.

Clara piscou, perdida.

— O quê…?

Suzana caminhou lentamente até a cadeira atrás da mesa e apoiou as mãos no encosto, como alguém prestes a anunciar uma sentença.

— Vinícius sempre foi… problemático.

Um homem difícil, calculista, obcecado em controlar tudo — inclusive a própria família.

Leonardo fechou os olhos como se ouvisse aquilo pela primeira vez — ou como se doesse ouvir de novo.

— Você não entende, Clara — continuou Suzana, a voz baixa, quase confessional. — Vinícius sempre enxergou Leonardo como uma ameaça. Como alguém que precisava ser eliminado.

Clara sentiu o ar sumir dos pulmões.

— Eliminado…? — repetiu num sussurro.

— Sim. — Suzana assentiu, lentamente, com uma expressão que misturava dor e indignação. — Vinícius passou anos sabotando Leonardo. Retirando funções na empresa, espalhando mentiras, ameaçando afastá-lo de tudo… inclusive de mim e de Sabrina.

Clara olhou para Leonardo — que permanecia imóvel, mas havia algo quebrado no rosto dele. Um peso que parecia antigo.

— Mas… isso não explica por que — ela olhou de um para o outro — …por que ele fingiu ser o Vinícius. Isso não explica nada!

Suzana respirou fundo.

— Explica, sim. Você só ainda não sabe o resto.

Clara apertou os dedos contra as têmporas, desesperada.

— Então me digam, pelo amor de Deus!

Suzana aproximou-se devagar, como se Clara fosse um animal assustado prestes a fugir.

— Vinícius descobriria que Leonardo estava prestes a assumir uma parte importante da empresa. Ele surtou, Clara. Jurou que, se Leonardo não saísse do caminho, ele mesmo tomaria uma atitude definitiva.

Clara levou a mão ao peito, sentindo o coração disparar.

— Está… está dizendo que ele… que ele seria capaz de…?

Suzana não precisou responder. O silêncio disse tudo.

Leonardo finalmente abriu a boca — mas sua voz era fraca, rouca, como se arranhasse a garganta:

— Eu nunca quis… nada disso. Nunca quis arrastar você pra isso, Clara…

Ela recuou dois passos, o corpo inteiro tremendo.

Clara sentiu que talvez estivesse presa no pior lugar possível.

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