Mundo ficciónIniciar sesiónO silêncio dentro do escritório era denso, quase sólido.
Clara permaneceu à porta, confusa, com o coração batendo no próprio ritmo do terror. Leonardo — ainda com o rosto que ela acreditava ser o de Vinícius — deu um passo à frente. — Clara, eu… preciso te dizer— Suzana cortou imediatamente: — Leonardo, deixe comigo. A palavra atingiu Clara como uma pancada. Ela piscou, atordoada. — Leona… do? — repetiu, a voz falhando. — Por que você chamou ele assim? Quem é Leonardo? Ela olhou para o homem à sua frente, procurando nele qualquer centelha de negação, qualquer sorriso, qualquer explicação. — Você… — o ar faltou por um instante — …você não é o Vinícius? Ele abriu a boca, mas não conseguiu falar. Era como se a própria culpa o segurasse pela garganta. Suzana avançou antes dele: — É exatamente por isso que precisamos conversar. — Como assim?! — Clara deu um passo para trás, o peito subindo e descendo rápido. — Eu me casei com você! Eu… eu achei que você era o Vinícius! Isso é um absurdo, isso é— isso é alguma brincadeira? Ninguém respondeu. Leonardo baixou os olhos. E isso, isso foi o que mais doeu. Clara sentiu algo rasgar dentro dela. — O que está acontecendo? — sussurrou, quase sem voz. — Por que você… por que você me deixou acreditar que era outra pessoa? Que seu nome era Vinícius? Suzana então assumiu o centro da conversa com a frieza que parecia natural para ela. — Clara, eu entendo sua confusão. Mas agora precisamos que você mantenha a calma para entender tudo que está acontecendo. — Calma? — Clara arfou, incrédula. — Eu não sei nem quem está na minha frente! Suzana inclinou a cabeça, suave como veneno. — Este homem… — tocou o braço de Leonardo com falsa delicadeza — …não é Vinícius Albuquerque. Este é Leonardo Albuquerque, o irmão de Vinícius. Clara levou a mão à boca, o mundo girando. — O irmão…? — repetiu, como se as palavras não coubessem na boca dela. — Então por que… por que você se casou comigo usando o nome do Vinícius? Por que se passou por ele? Por que me enganar assim? Leonardo ergueu o olhar, finalmente mostrando a ruína em seus olhos. Ele tentou falar. — Clara, deixa eu explicar… eu juro que— Suzana cortou novamente. — Leonardo. Não é sua vez. Clara deu mais um passo para trás, o corpo inteiro tremendo. — Eu… não estou entendendo nada. — a voz dela quebrou. — Nada disso faz sentido. Por quê? Por quê? E só então, quando a fundação da identidade dela desmoronou, Suzana começou a preparar o terreno para a mentira sobre Vinícius. Suzana suspirou, como se carregasse um fardo impossível. — Clara… — disse com uma calma que não combinava com nada naquela sala — …você tem o direito de saber. Tudo isso aconteceu porque Vinícius não é quem você pensa. Clara piscou, perdida. — O quê…? Suzana caminhou lentamente até a cadeira atrás da mesa e apoiou as mãos no encosto, como alguém prestes a anunciar uma sentença. — Vinícius sempre foi… problemático. Um homem difícil, calculista, obcecado em controlar tudo — inclusive a própria família. Leonardo fechou os olhos como se ouvisse aquilo pela primeira vez — ou como se doesse ouvir de novo. — Você não entende, Clara — continuou Suzana, a voz baixa, quase confessional. — Vinícius sempre enxergou Leonardo como uma ameaça. Como alguém que precisava ser eliminado. Clara sentiu o ar sumir dos pulmões. — Eliminado…? — repetiu num sussurro. — Sim. — Suzana assentiu, lentamente, com uma expressão que misturava dor e indignação. — Vinícius passou anos sabotando Leonardo. Retirando funções na empresa, espalhando mentiras, ameaçando afastá-lo de tudo… inclusive de mim e de Sabrina. Clara olhou para Leonardo — que permanecia imóvel, mas havia algo quebrado no rosto dele. Um peso que parecia antigo. — Mas… isso não explica por que — ela olhou de um para o outro — …por que ele fingiu ser o Vinícius. Isso não explica nada! Suzana respirou fundo. — Explica, sim. Você só ainda não sabe o resto. Clara apertou os dedos contra as têmporas, desesperada. — Então me digam, pelo amor de Deus! Suzana aproximou-se devagar, como se Clara fosse um animal assustado prestes a fugir. — Vinícius descobriria que Leonardo estava prestes a assumir uma parte importante da empresa. Ele surtou, Clara. Jurou que, se Leonardo não saísse do caminho, ele mesmo tomaria uma atitude definitiva. Clara levou a mão ao peito, sentindo o coração disparar. — Está… está dizendo que ele… que ele seria capaz de…? Suzana não precisou responder. O silêncio disse tudo. Leonardo finalmente abriu a boca — mas sua voz era fraca, rouca, como se arranhasse a garganta: — Eu nunca quis… nada disso. Nunca quis arrastar você pra isso, Clara… Ela recuou dois passos, o corpo inteiro tremendo. Clara sentiu que talvez estivesse presa no pior lugar possível.






