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3 - Algo Está Errado

As palavras ecoavam na mente dela, repetindo-se como um aviso. Como uma sombra crescendo pelas paredes.

A gente precisa agir e resolver isso…

Clara caminhou até a cama e sentou-se devagar, sentindo o colchão afundar sob o peso do corpo cansado. O quarto, elegante e acolhedor à primeira vista, naquele momento parecia frio. Quase hostil.

Ela apoiou os cotovelos nos joelhos e escondeu o rosto entre as mãos.

O que estava acontecendo naquela casa?

Por que Suzana reagira daquela forma?

O que precisava ser “resolvido”?

Quem deveria “vir”?

Nada fazia sentido.

Clara tentou respirar fundo, mas o ar parecia preso na garganta. Apesar do pânico, o cansaço puxava seu corpo para baixo como uma maré pesada.

Ela se deitou por um instante, apenas para descansar a mente. Os olhos se fecharam antes que pudesse impedir.

Não sabia se cochilou por minutos ou segundos…

Mas o som que veio a seguir atravessou qualquer descanso:

TOC. TOC. TOC.

Clara abriu os olhos bruscamente, o coração acelerando.

O quarto ainda estava semi-escuro, a luz suave filtrando pelas cortinas. Por um momento, ela não soube onde estava.

TOC. TOC.

Agora mais firme.

Ela se sentou na cama, respirando fundo para estabilizar a voz.

— Q-Quem é?

A porta abriu apenas um palmo, e uma das empregadas apareceu com postura respeitosa e expressão neutra.

— Senhora Clara — disse ela, com a voz baixa. — Dona Suzana pediu que a senhora a encontre no escritório. Ela está esperando.

O estômago de Clara apertou.

— Certo… eu já vou.

A empregada se afastou, deixando o corredor silencioso novamente.

Clara permaneceu sentada por alguns segundos, imóvel, tentando reunir coragem dentro do peito. Mas tudo que encontrou foi um arrepio.

Ela se levantou devagar, como se cada passo arrastasse um peso invisível, e caminhou até a porta.

Seguiu pelo corredor como se estivesse pisando em gelo fino. O silêncio da casa não era apenas silêncio — era uma presença. Algo que observava. Cada passo ecoava mais alto do que deveria.

Parou diante da porta do escritório e respirou fundo, tentando estabilizar o coração que martelava no peito.

A mão dela tremia ao tocar a maçaneta. Quando abriu a porta, o mundo pareceu parar.

O escritório estava iluminado pela luz suave da manhã, filtrada pelas cortinas. O cheiro de madeira, livros e perfume masculino pairava no ar — um perfume que ela conhecia. Ou achava que conhecia.

Suzana estava de pé próxima à mesa, numa postura quase cerimonial, como se aguardasse algo importante.

Mas Clara não olhou para ela.

Porque, no canto do escritório, de costas, estava ele. Ou… a figura que seu coração reconheceu antes da mente.

O homem permanecia diante da janela, as mãos nos bolsos, a cabeça levemente inclinada. A luz da manhã delineava os fios escuros e levemente ondulados do cabelo, destacando o brilho sutil que ela sempre achou irresistível.

O porte dele — alto, forte, cerca de 1,80 — preenchia o espaço com a mesma presença que sempre a marcou. Os ombros largos, a postura firme, a silhueta elegante sob a camisa… cada detalhe atingia Clara como uma memória viva.

Era assim que ela lembrava dele. O homem por quem se apaixonara. O homem com quem se casara.

Aquele perfil que misturava força e mistério.

Aquele corpo que parecia carregar poder em silêncio.

Clara sentiu os olhos arderem. O peito afrouxar.

Por um instante — breve, precioso — acreditou que tudo faria sentido de novo.

Era o rosto que ela conhecia. O rosto que amava.

Mas quando os olhos dele encontraram os dela…

o chão sumiu sob seus pés.

Havia algo errado ali.

Ele a olhou como quem observa um estranho.

Clara engoliu seco, apoiando-se na porta sem perceber que o corpo desfalecia por dentro. Mesmo assim, avançou. Passos curtos, arrastados contra o próprio instinto.

Quando finalmente alcançou distância suficiente para tocá-lo, ergueu a mão com cautela.

A rigidez que encontrou quase arrancou seu fôlego. Ele não sorriu como sempre fazia quando a via.

— Eu pensei que você só viria daqui a alguns dias… — murmurou ela, a voz tentando não quebrar. — O Henrique disse que você ainda estava no hospital…

O homem demorou demais para responder.

Tempo que bastou para a incerteza se formar dentro dela.

— As coisas mudaram — respondeu enfim, com uma voz que deveria ser familiar… mas não era.

Clara recuou um passo. O coração acelerava por um motivo muito diferente agora.

O ar ficou denso, pesado. Como se algo invisível preenchesse o espaço entre eles.

Algo que ela não conseguia nomear, mas que apertava seu peito com força.

Ela tentou falar novamente, mas a voz falhou.

O homem continuava imóvel. Observando-a. Estudando-a. Como se decidisse alguma coisa.

Clara deu outro passo para trás, instintivamente.

Os olhos dele acompanharam o movimento — lentos, calculados.

Um arrepio cortou sua espinha.

— O que… realmente aconteceu com você? — perguntou num fio de voz, mais para si do que para ele.

Nenhuma resposta. Nenhuma mudança de expressão. Nenhum sinal de reação.

Só silêncio. Um silêncio que dizia mais do que qualquer palavra.

Clara sentiu a respiração falhar.

Havia algo terrivelmente errado naquela sala.

Algo que ela ainda não entendia… mas que, no fundo, já começava a sentir.

Ela recuou.

Os olhos dele continuaram fixos nela — frios, tensos.

Clara baixou a mão devagar, como se temesse provocar o inesperado.

— O que aconteceu com você…? — repetiu, quase inaudível.

Ele permaneceu em silêncio.

E, naquele silêncio, Clara sentiu o primeiro lampejo de algo que não tinha coragem de nomear.

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