Amara
Percebo que as correntes não estão totalmente presas. Um detalhe quase imperceptível, mas que acende uma pequena fagulha de esperança no fundo da minha mente. Tento disfarçar, fingindo que continuo derrotada, enquanto meus olhos varrem o espaço ao redor.
O cheiro do lugar é sufocante — uma mistura de suor, ferro, fumaça e sangue seco. O ar parece pesado, quase sólido, como se cada respiração grudasse na garganta. Mas meu olhar se perde quando vejo Jaqueline sendo trazida por aquele vampiro.
Meu coração afunda instantaneamente. O desgraçado a arrasta como se fosse um objeto, com um sorriso perverso estampado no rosto. Ele a empurra contra a parede e prende as correntes ao redor de seus pulsos com um estalo metálico que ecoa no salão. Jaqueline mantém o olhar perdido, o rosto coberto de lágrimas. Eu sei exatamente o que ele fez com ela. Não preciso perguntar. A resposta está escrita na expressão apagada dela.
Um ódio profundo começa a ferver dentro de mim, queimando como ácido.
— Jaqueline… fala comigo — minha voz sai baixa, carregada de tensão, como se cada palavra fosse uma tentativa desesperada de mantê-la comigo.
Ela balança a cabeça, evitando meus olhos. O pescoço dela está avermelhado, mas não há marcas de mordida. Isso me faz imaginar que ele a estrangulou para imobilizá-la. Só de pensar, meu estômago se revira.
— Jaqueline, por favor… — insisto, sentindo minha voz tremer entre a raiva e o desespero.
— Não precisa se preocupar comigo… eu estou bem — a voz dela é quase um sussurro, tristonha, quebrada, carregada de dor.
Meu coração se despedaça em mil pedaços. Lágrimas queimam meus olhos e caem antes que eu consiga impedir. A mistura de ódio e impotência é sufocante. Eu só penso em uma coisa: matar aquele maldito vampiro.
Mas antes que eu possa reagir, sinto uma picada aguda no pescoço. Um dos soldados injeta algo em mim. Quase imediatamente, uma dor insuportável se espalha pelo meu corpo, como se cada nervo estivesse sendo queimado por dentro. Vejo que as outras garotas recebem a mesma dose, e o horror se espalha nos olhos delas.
A dor me obriga a puxar as correntes com força. Meu corpo treme, mas percebo — com um choque de adrenalina — que talvez consiga me soltar. Tento novamente, mas sou interrompida quando as cortinas à frente se abrem. Uma luz intensa invade o salão e a voz de um homem ecoa pelo alto-falante, carregada de falsa elegância:
— Senhores, aqui estão as mercadorias de primeira qualidade! Lindas garotas, prontas para realizar todos os seus desejos!
O público responde com murmúrios animados e risadas asquerosas. Tento focar na voz dele, mas meu corpo está estranho. Um calor sufocante começa a me consumir, como se algo estivesse queimando por dentro. Minha mente fica turva. Os sons chegam distantes, abafados. Só consigo ouvir a disputa de lances.
A primeira a ser levada é uma garota que já estava presa antes de nós. Ela grita, implora, mas dois seguranças a arrastam como se fosse um saco de batatas. Depois é a vez de Marcela. Tento reagir, mas o formigamento em meus braços e pernas aumenta.
Droga… eles nos doparam.
Fecho as mãos com força até sentir as unhas rasgarem a pele da palma. A dor aguda me ajuda a manter a consciência. Eu não posso deixar levarem minha amiga.
— Próxima, a ruiva! — anuncia o homem no palco.
Os lances sobem rápido. O leiloeiro sorri, excitado pelo espetáculo. Nesse momento, vejo o vampiro se aproximando de Jaqueline. Ela se encolhe, o olhar apavorado.
Algo dentro de mim se rompe. Puxo as correntes com toda a força, e para minha surpresa elas se soltam. Talvez o homem que me prendeu não tenha travado direito. Um sorriso perverso se forma nos meus lábios.
Avanço contra o vampiro antes que ele perceba. Enrolo a corrente em volta do pescoço dele e o pressiono contra a parede. Ele se debate, mas algo — talvez a própria raiva misturada à droga — me dá força para manter o aperto. Por um segundo, sinto que vou conseguir… até que ele, com um movimento brutal, se liberta e me arremessa contra o chão.
O impacto me tira o ar. Mas, antes que ele possa atacar novamente, alguém no palco j**a uma espada para mim. Não sei quem foi, mas agarro o cabo com força. Quando o desgraçado avança, giro o corpo e, num golpe certeiro, corto sua cabeça.
O silêncio dura apenas um segundo antes que o salão exploda em gritos — alguns de choque, outros de pura euforia. Só então percebo que há dezenas de homens sentados em mesas ao redor, bebendo e observando tudo como se fosse um espetáculo particular.
O homem do microfone ergue as mãos e grita:
— Esta é a joia da minha coleção! Forte, selvagem… esperando alguém para domá-la! Lance inicial: um milhão de dólares!
Minha mente demora para processar. Um milhão… por mim?
— Mara, nos tire daqui! — a voz de Rebeca me traz de volta.
Corro até ela e arrebento as correntes, mas não temos tempo. Seguranças surgem por todos os lados. Um deles me derruba e arranca a espada da minha mão. Mesmo assim, continuo lutando, junto com Rebeca.
Olho ao redor, procurando Jaqueline — e a vejo sendo levada para baixo do palco por dois homens.
O sangue ferve nas minhas veias. Sem pensar, pulo sobre as mesas, derrubando copos e pratos, ignorando os olhares e gargalhadas. O feiticeiro no palco me vê e, com um gesto rápido, grita:
— Peguem ela!
Corro mais rápido, mas sinto algo invisível me atingir, como se uma mão gigante me empurrasse. Sou lançada longe e caio sobre uma mesa, espalhando garrafas e pedaços de vidro pelo chão.
Tento me levantar, mas uma mão firme me segura pelo braço. Olho para cima e vejo um homem de olhos azuis intensos, tão bonitos quanto selvagens. Ele me puxa para ficar de pé, e por um instante penso que vai me ajudar… até que ele fala com uma voz áspera:
— Agora você nos pertence. Vai ser nossa escrava… e vai gritar todas as noites em nossa cama.
O choque dura apenas um segundo antes de a raiva me dominar. Acertei um soco no rosto dele com toda a força. Ele cambaleia para trás, levando a mão ao nariz, enquanto tento correr para a saída.
Mas sou interceptada por outro homem — idêntico ao primeiro, como se fossem gêmeos — só que com um olhar frio e cruel. Ele torce meus braços para trás e murmura no meu ouvido, a voz carregada de ameaça:
— Você não vai a lugar nenhum, humana. É nossa agora… e nós adoramos garotas selvagens.
Antes que eu possa reagir, sinto minha força se esvaindo. Ele me arrasta para fora, e o outro, ainda limpando o sangue do canto da boca, me segue com um sorriso malicioso.