Apolo
Ultimamente tenho andado extremamente irritado. Talvez seja o peso da idade — já passei dos trinta e ainda não encontrei a minha companheira. Meu irmão, Arthur, não parece se importar. Ele continua levando a vida de sempre: noites boêmias, rindo alto, cercado de mulheres que não significam nada. Para ele, isso basta. Para mim, não. Eu quero construir algo. Quero filhotes correndo pela casa, quero uma família.
Mas, mesmo que eu a encontre, sei que terei de dividi-la com Arthur. Somos gêmeos idênticos, inseparáveis desde o nascimento. Aprendemos desde cedo a dividir tudo — brinquedos, roupas, dores, vitórias. Até a vida.
Às vezes penso que fomos amaldiçoados. Que o fato de nunca termos encontrado nossas companheiras é um castigo pelos pecados do passado. Nós matamos nosso pai.
Aquele maldito merecia morrer. Durante anos ele fez minha mãe sofrer, mas a gota d’água foi quando violentou nossa irmã mais nova. Quando vi aquilo, uma fúria selvagem tomou conta de mim e de Arthur. O sangu