Capítulo 48
Vinícius Strondda
Entro na cozinha com o gosto metálico da adrenalina ainda na boca. O corpo pesa de uma maneira que eu não consigo justificar — como se cada músculo soubesse que ainda não acabou, que há mais a vir. Laura já está no corredor quando eu apareço; os olhos dela são lâminas, firmes, sem concessões. Maicon me aborda com o rádio na mão, o rosto pintado de urgência.
— Chamei o João Miguel pra vir imediatamente— diz ele curto. — Já tô indo. A Duda está me esperando.
Assinto sem pensar.
A visão se afina: o corpo estendido do maledetto no chão, a água secando nas lajotas, o avental de Lucia manchado. Há cheiro de pólvora no ar, e isso me libera algo ruim por dentro — uma atenção afiada que não consigo desligar.
Tia Laura me puxa pelo braço, o toque dela é uma âncora.
— Agora você é o Don — diz ela, devagar, quase um aviso vestido de conselho. — A primeira que vão tentar atingir é a Lucia. Você precisa melhorar a segurança na casa; precisa pensar em