Capítulo 40
Vinícius Strondda
A porta ainda balançava no batente quando entrei de novo. Eu devia ter ficado lá fora, farejando o vento molhado do jardim, contando postes, cacos, qualquer coisa que me fizesse esquecer o incêndio que ela acendeu dentro de mim.
O desejo ainda queimava.
Não aquele tipo fácil, que apaga com um banho frio ou um copo de vinho. Era o outro — o que nasce da raiva, da loucura, da vontade de dominar o próprio inferno.
Mas Lucia encostou a cabeça de lado, o vestido vermelho marcado no corpo como pecado feito sob medida, e eu entendi que ficar longe dela seria uma crueldade maior do que todas as que já cometi.
— Está muito cansada? — perguntei, e minha própria voz veio rouca, gasta, com um resto de risada que não engana ninguém. Foda-se. Odeio mentiras.
Ela me mediu de cima a baixo, lenta, descarada, os olhos descendo pelo peito aberto da minha camisa como quem estuda um mapa que já conhece de cor.
— Não. Na verdade… sem sono.
Fec