Inicio / Romance / Vendida ao Destino / Capítulo 3 – A Jaula Dourada
Capítulo 3 – A Jaula Dourada

Corri. Os saltos me traíam, o vestido parecia pesar uma tonelada, mas eu não parei. O coração martelava no peito, e o ar parecia faltar. Tudo que eu queria era sair dali. Sumir. Me libertar daquele circo de horrores.

Alcancei o jardim externo, já avistando o portão principal quando dois homens surgiram das sombras. Vestiam terno preto, postura impecável, e a mesma expressão fria e treinada. Eram seguranças. Os de Valentin.

— Saia da minha frente — rosnei, tentando passar entre eles.

Um deles estendeu o braço, bloqueando meu caminho com delicadeza calculada.

— Desculpe, senhorita. Ordem direta do senhor Montes. Sua segurança é prioridade.

— Segurança?! — gritei, sem conseguir conter a ironia. — Vocês não têm ideia do que estão dizendo. Isso aqui é cárcere. Eu não sou propriedade de ninguém!

— Temos ordens para acompanhá-la — respondeu o outro, indiferente às minhas palavras. — Um carro já a espera.

Eu ainda tentei resistir, debater, ameaçar, mas foi inútil. Fui levada. Não com violência, mas com um controle silencioso que me arrepiava até os ossos. Era como se todos ao redor soubessem qual papel deveriam desempenhar... menos eu.

*******

O carro preto me conduziu pelas ruas como um caixão elegante. As janelas eram escuras, e ninguém dizia uma palavra. Meus pensamentos, no entanto, gritavam. Como cheguei aqui? Como pude viver toda minha vida sem saber a verdade?

A estrada mudou. As luzes da cidade ficaram para trás. Árvores, colinas, silêncio. Quando os portões de ferro se abriram, percebi que não era apenas uma casa. Era um império.

A mansão dos Montes era imensa. Clássica, sombria, com colunas brancas que pareciam sustentar o céu. Tudo nela exalava poder... e medo.

Ao descer do carro, fui recebida por um funcionário com luvas e expressão neutra.

— Seu quarto está pronto, senhorita Emanuelle. O senhor Valentin pediu que você descansasse esta noite. Amanhã, ele deseja conversar.

Assenti com a cabeça, mas por dentro, eu queimava. Me levaram até um quarto luxuoso demais para o gosto de alguém criada entre paredes úmidas e pratos vazios. Mas assim que a porta se fechou e me vi sozinha, o silêncio me deu fôlego.

Olhei em volta. Cada móvel parecia gritar segredos. E eu precisava desesperadamente ouvi-los.

Abri gavetas, vasculhei livros, olhei atrás de quadros. Até encontrar uma porta semi-oculta no corredor. Uma biblioteca.

Entrei.

As prateleiras iam do chão ao teto, repletas de obras antigas, arquivos, pastas. Luz suave. Cheiro de couro e papel envelhecido. Meus dedos correram por lombadas até encontrar algo peculiar: uma coleção de livros com brasões. Brasões iguais ao que havia visto no anel de Valentin.

Puxei um dos volumes. Era um registro genealógico. Li os nomes. Montes. Os Montes estavam por toda parte — desde o século XVIII. Empresários. Diplomatas. Donos de terras.

E criminosos.

Um dos livros caiu no chão e se abriu em uma página amarelada, com um recorte de jornal antigo. Um nome saltou aos meus olhos: Valentin Montes, acusado de tráfico de armas e lavagem de dinheiro. Processo arquivado. Falta de provas.

Outro documento, grampeado ali, listava uma série de empresas fantasmas. Movimentações bilionárias. E, ao final da pasta, uma fotografia antiga: Valentin, mais jovem ao seu lado meu pai, cercado por homens armados. Embaixo, um rótulo:

Família Montes – Reunião anual das famílias da Cúpula Negra. Palermo, 1995.

Meu coração disparou. Cúpula Negra. Máfia.

A linhagem que ele tanto falava... era uma linhagem mafiosa. Mas o que meu pai fazia ali?

— Meu Deus… — sussurrei, sentindo um calafrio subir pela espinha.

Tudo fazia sentido agora. A quantia paga à Regina. O controle. A obsessão pela minha "pureza". Eu era parte de um plano antigo. Talvez uma aliança. Um casamento arranjado. Um legado de sangue.

Fechei os olhos por um segundo. Minha vida estava nas mãos de criminosos. E o mais perigoso deles… era o homem que agora me chamava de “herança”.

Mas se ele achava que eu seria moldada por suas regras, ele não me conhecia.

Eu não seria um elo passivo nessa corrente.

Eu seria a ruína daquilo que eles tentaram preservar.

Fechei o livro com um estrondo seco, como se pudesse encerrar junto dele a dor que se abria em mim. Meus dedos tremiam. Meus pensamentos giravam em espirais confusas, mas uma certeza se erguia no meio do caos: eu precisava sair dali.

Não sabia como. Nem quando. Mas já não se tratava apenas de fugir por instinto — agora era por sobrevivência.

Voltei ao quarto, tentando memorizar cada passo pelo corredor, cada porta, cada câmera. Sabia que era observada. Sentia os olhos invisíveis cravados em minha pele, pesando, julgando, avaliando cada movimento meu.

Fechei a porta atrás de mim e travei. Uma tentativa inútil, eu sabia. Se quisessem entrar, o fariam com ou sem a minha permissão. Mas aquilo me dava uma falsa sensação de controle. E eu precisava de qualquer coisa que me fizesse sentir humana outra vez.

Sentei na beirada da cama, olhando minhas mãos. Estavam sujas de poeira, suor e desespero.

O que meu pai fazia naquela foto?

Essa pergunta me corroía mais do que qualquer outra. Eu sempre o idealizei como um homem bom, justo, protetor. Mas agora… agora uma nova camada se revelava, grotesca e inesperada.

Será que ele fazia parte disso?

Ou será que foi tragado como eu estava sendo?

Talvez tenha tentado sair e pagou com a vida.

Talvez... ele tenha feito um pacto de sangue. E eu era a dívida final.

Encostei a cabeça nos joelhos, tentando conter as lágrimas, mas elas vieram. Silenciosas. Quentes. Amargas.

Minutos ou horas se passaram — o tempo parecia curvar-se dentro daquela prisão luxuosa.

Até que ouvi passos.

Leves. Rítmicos. Firmes.

Levantei num sobressalto. Alguém estava se aproximando.

A maçaneta girou, lentamente. Minha respiração parou.

Mas era apenas uma mulher. Jovem, pele morena, cabelos presos com perfeição. Usava um uniforme discreto e uma expressão apática.

— Senhorita Emanuelle… vim trazer algo para a senhorita comer — disse, depositando uma bandeja sobre a mesinha.

— Você trabalha há muito tempo aqui? — perguntei, tentando manter a voz firme.

Ela hesitou, os olhos evitando os meus.

— O suficiente — murmurou.

— E você sabe quem eles são?

Ela me olhou por um instante. E naquele instante, vi algo. Uma sombra de empatia. Ou medo. Ou ambos.

— Aqui, ninguém pergunta demais. E quem pergunta... não permanece.

Antes que eu pudesse dizer qualquer outra coisa, ela saiu.

A comida estava ali. Intocada. Como tudo naquele lugar.

********

Voltei para a biblioteca escondida naquela madrugada. Dessa vez, mais cuidadosa. Peguei mais um volume. Depois outro. As histórias batiam. Lavagem. Extorsão. Acordos internacionais. Execuções disfarçadas de acidentes. Tudo isso sob a fachada de uma fortuna legítima. A família Montes era temida até na Sicília.

Eu lia e relia os nomes, os sobrenomes, e as alianças entre famílias. E, no centro disso tudo, a linha de sangue que me conectava àquele inferno.

Foi quando encontrei outro recorte.

“Enlace prometido entre os Montes e os Bressanelli. Herdeiros definidos. A união selará o fim da guerra de poder.”

E ali estava meu nome rabiscado ao lado do nome dele.

Dante Bressanelli. O nome do meu pai.

Eu conhecia aquele rosto, e agora tinha certeza: eu era mais do que uma herança.

Eu era a chave de um tratado antigo.

Fechei o livro com raiva.

Valentin acha que vai me usar. Acha que pode me prender com ouro, manipular minha vida com um nome de peso e alianças podres de sangue e poder.

Mas ele está enganado.

Porque eu ainda tenho meu espírito. Minha inteligência. E, principalmente, a sede de justiça que cresceu comigo todos esses anos.

Eles queriam uma herdeira submissa.

Mas criaram, sem saber, uma inimiga com o rosto da própria linhagem.

Eu não apenas vou fugir disso.

Vou destruir tudo.

Sigue leyendo este libro gratis
Escanea el código para descargar la APP
Explora y lee buenas novelas sin costo
Miles de novelas gratis en BueNovela. ¡Descarga y lee en cualquier momento!
Lee libros gratis en la app
Escanea el código para leer en la APP