Narrado por Emanuelle
A luz do espelho refletia mais do que minha maquiagem cuidadosamente aplicada — refletia o rosto de alguém que havia aprendido a sorrir com a boca e se calar com os olhos. Meu vestido repousava sobre o corpo com a leveza de um sussurro, mas cada camada de tecido carregava um peso antigo. Um pacto não verbalizado. Um sacrifício bem costurado.
Na penteadeira, as flores brancas enviadas pela assessoria contrastavam com os dedos tensos da maquiadora que retocava minha pele. Ela dizia palavras suaves, mas eu não ouvia mais. O silêncio dentro de mim era maior. Muito maior.
O relógio marcava pouco antes do meio-dia quando a porta da mansão dos Montes se abriu atrás de mim com um rangido sutil.
Não precisei me virar, para saber da presença que estava ali.
O perfume barato. O salto exagerado. A respiração pesada de quem sempre quis estar aqui, mas nunca pertenceu a nada de verdade.
Regina.
— Emanuelle — ela disse com aquele sorriso torto, quase satisfeito. — Hoje está rea