Narrado por Emanuelle
O som das portas sendo destravadas chegou aos meus ouvidos antes mesmo que ele aparecesse. Passava das seis da manhã. A mansão ainda envolta em penumbra. O cheiro de café fresco invadindo os corredores, tentando disfarçar o amargor da verdade.
Samuel havia passado a noite fora.
Com Valeria.
Não precisei perguntar. Não precisava da confissão dele, nem de rastros evidentes. Quando um homem volta para casa com o mesmo perfume que te feriu na tarde anterior, o crime já está consumado — e ele é tão culpado quanto previsível.
Mas eu não sou mulher de escândalos. Não mais.
Sou mulher de estratégias. A Elisabeth me fez assim.
Quando ele entrou pela porta da frente, os olhos levemente cansados, o paletó pendendo de um ombro e o colarinho amassado... tudo nele gritava descaso. Ou, quem sabe, provocação.
Ele esperava reação. Esperava grito. Esperava choro. Eu lhe dei apenas silêncio.
Aproximei-me com passos firmes, impecável no vestido creme e no coque meticulosamente preso