Samuel narrando
Havia algo de insuportavelmente silencioso naquela noite.
O tipo de silêncio que grita quando você tenta ignorar o que acabou de acontecer. O tipo de silêncio que se instala não no ambiente, mas dentro do peito.
Tirei o paletó, jogando-o sobre a poltrona como se fosse o culpado por tudo. Como se fosse ele que tivesse deixado Emanuelle me olhar daquele jeito — superior, inatingível, quase cruel.
Ela entrou naquela sala como quem empunha uma espada invisível. Como quem já sabia de tudo. E o pior... é que ela sabia.
Eu, um Montes. Criado para mandar, para prever jogadas antes mesmo que fossem pensadas. E ali estava ela, rasgando meu orgulho com um sorriso educado e venenosamente calmo.
Maldição.
Encostei as costas na parede fria do quarto do meu apartamento no centro da cidade e fechei os olhos. Mas tudo o que consegui ver foi o jeito que ela pronunciou "meu noivo" como se me estivesse cuspindo e coroando ao mesmo tempo.
Ela não gritou. Não chorou. Não fez escândalo. Apen