45. Visita rápida a Arpid
A noite foi inquieta.
Mesmo deitada em minha cama, cercada pelo cheiro familiar de flores secas e lençóis limpos, meu sono foi perturbado.
Sonhei — ou talvez tenha revivido — o dia do Evento.
Vi novamente o céu se rasgar como tecido velho, uma fenda brilhante cortando as nuvens, e daquela abertura, luzes douradas e prateadas dançando como rios furiosos.
Mas os sonhos não pararam por aí.
Havia algo nas sombras — figuras indistintas, grandes e ameaçadoras, que se moviam além da luz. Senti a presença delas mesmo sem vê-las direito, como um arrepio que corria pelas costas.
Ouvi o som de algo vasto e antigo rugindo além do véu, um eco que parecia querer arrancar minha alma do corpo.
Quando uma dessas sombras estendeu a mão em minha direção, acordei de forma brusca, arfando.
O quarto ainda estava escuro, mas a primeira luz pálida da manhã começava a se insinuar pelas frestas da janela.
Sentei-me na cama, pressionando a mão contra o peito para tentar acalmar meu coração des