James observava pela janela do escritório enquanto o sol começava a se pôr, tingindo o céu com tons alaranjados e rosados. Lá fora, Lilly estava sentada na escadinha dos fundos da casa, rindo com Emily, que tentava fazer bolhas de sabão maiores que ela mesma. O som da risada da filha misturado à de Lilly preenchia os espaços vazios que, por tanto tempo, ele fingiu não notar.Suspirou, afastando-se da janela. Estava se permitindo sentir demais, pensar demais. Ela era doce, dedicada, gentil — e completamente fora dos limites que ele mesmo impusera. Mas quanto mais tentava manter distância, mais a presença dela o alcançava.O jeito como ela se envolvia com Emily, como conhecia seus horários, suas preferências, como a fazia sorrir… Ele não via aquilo há tanto tempo que havia esquecido como era.Tentou se concentrar nos contratos sobre a mesa, mas as palavras se embaralhavam. E foi então que ouviu a porta da cozinha se abrindo, seguida de passos leves no corredor. A voz de Marlene veio em
O som do despertador do celular ecoou no quarto de Lilly às 6h30. O céu ainda estava em tons acinzentados quando ela se levantou, colocando um moletom por cima do pijama e indo direto para a cozinha. Marlene já estava por lá, mexendo o café enquanto o cheiro quente e acolhedor preenchia o ambiente.— Bom dia, querida — disse a governanta, com o sorriso de sempre. — Café tá fresquinho.— Bom dia, Marlene. Aceito, sim. E obrigada… de novo.A mulher mais velha observou Lilly com carinho. Desde que a jovem decidira começar a vender doces, ela passara a acordar ainda mais cedo para dar conta das encomendas. Entre panelas, caixas e canetinhas coloridas para enfeitar os laços, Lilly se dividia entre o fogão e o computador, onde fazia as aulas e lia os textos da faculdade.— Hoje tem quantas encomendas? — perguntou Marlene, servindo o café nas duas xícaras.— Três caixas de brigadeiros gourmet e duas de casadinhos. Vou entregar na hora do almoço, antes de pegar firme nos estudos — disse ela,
A cozinha da mansão estava envolta em um aroma adocicado e acolhedor. O som suave da chuva do lado de fora misturava-se ao tilintar dos utensílios. Lilly mexia a massa com concentração, a playlist instrumental tocava baixinho, e Marlene havia saído para buscar Emily na escola, deixando a casa em silêncio. Era o fim da tarde, e Lilly queria adiantar os pedidos da manhã seguinte.Ela estava tão absorta no preparo de uma nova receita que nem percebeu o tempo passar. Cortou um pedaço de chocolate mais duro e, em um movimento impensado, a faca escorregou, rasgando a lateral de seu dedo. A dor foi aguda, rápida, seguida do sangue que começou a escorrer.— Droga! — exclamou, levando a mão à boca por instinto.
A manhã se anunciava dourada e serena, e a mansão Carter parecia respirar tranquilidade. Com Emily já na escola, Lilly aproveitou o silêncio para revisar uma aula da faculdade EAD e depois se dedicou aos pedidos de doces.Era um dos dias mais cheios da semana — a irmã de um cliente antigo encomendara dez kits de brownie personalizados para presentear colegas de trabalho. Lilly adorava essas pequenas produções. Cada embalagem feita com cuidado, laço de fita e etiquetas desenhadas à mão. Ela queria que as pessoas sentissem amor no primeiro olhar.Enquanto derretia chocolate e media ingredientes com precisão, cantarolava baixinho uma música qualquer. A cozinha cheirava a baunilha, açúcar e paz. Marlene a ajudaria com a entrega depois, mas uma parte do pedido seria retirada no local.A campainha tocou perto das dez e meia. Lilly, com o avental ainda sujo de farinha e chocolate, foi até o portão principal, secando as mãos no pano de prato. Um homem alto, bem-apessoado e de sorriso tranquil
A semana corria com uma tranquilidade enganosa, daquelas que precedem reviravoltas sutis, quase imperceptíveis, mas que mudam tudo com o tempo.Era uma manhã clara, e Lilly preparava a última fornada de cookies quando recebeu uma mensagem no celular. Limpou as mãos no avental e desbloqueou a tela, curiosa.Gabriel:Bom dia, Lilly. Aqueles brownies ficaram incríveis. Será que posso encomendar mais pra esse fim de semana? E, se não for muito ousado… posso te convidar pra um café também?O coração dela deu um leve salto. Seus olhos ficaram fixos na tela por um segundo a mais do que o necessário. Gabriel tinha sido gentil, educado, simpático… e agora dava um passo direto, mas respeitoso. Lilly mordeu o lábio inferior, surpresa.— Olha só… — murmurou, meio sorrindo.Mais tarde, já com Emily na escola e os doces do dia prontos para entrega, Lilly conversava com dona Madalena, que costurava uma barra de cortina sentada perto da porta da cozinha.— Sabe aquele rapaz que veio buscar os brownie
A manhã estava ensolarada, mas havia uma névoa sutil no ar que parecia refletir o clima entre Lilly e James. Desde o jantar da noite anterior, ela sentia o olhar dele pesar mais do que o normal — como se a presença de Gabriel, mesmo ausente, tivesse se instalado entre eles como uma sombra indesejada.Lilly tentava se distrair. Passava a massa dos pães de mel com mais força do que o necessário, enquanto Marlene embalava os últimos pedidos da manhã.Seu celular vibrou. Era Gabriel.“Oi, Lilly! Consegui uma reserva pra aquele café que te falei, sábado à tarde. Vai ser ótimo te ver de novo :)”Ela
O pôr do sol pintava o céu com tons dourados e rosados quando Lilly terminou de se arrumar. Ela se olhou no espelho com um misto de ansiedade e insegurança. O vestido leve, em um tom suave de azul, caía perfeitamente sobre seu corpo, marcando a cintura e realçando sua silhueta de maneira delicada. Simples, mas bonito. Como ela queria se sentir: especial, sem exageros.Ouviu a campainha tocar e seu coração acelerou.— Eu atendo! — chamou Marlene, animada, já correndo para a porta.Do alto da escada, Lilly ajeitou uma mecha solta de cabelo atrás da orelha e respirou fundo antes de descer.James estava no escritório, mas ao ouvir a movimentação, não conseguiu se conter. Deixou os papéis de lado e foi até o corredor, parando discretamente, à meia sombra. Daquele ângulo, conseguia vê-la.E por um momento, esqueceu como respirar.Ela estava… deslumbrante.Não era apenas o vestido, ou o sorriso nervoso que ela tentava esconder. Era algo na maneira como caminhava, na luz que carregava sem nem
Lilly Harper estava acostumada a se virar sozinha. Desde que deixou a pequena cidade onde cresceu para estudar Pedagogia em São Paulo, aprendeu rapidamente que a vida na capital exigia mais do que apenas determinação – exigia sacrifícios.Aos vinte e cinco anos, morava sozinha em um apartamento modesto, com paredes finas demais e um aluguel que consumia quase tudo o que ganhava no café onde trabalhava meio período. O espaço era pequeno, mas era dela, e isso significava liberdade. Liberdade para construir seu próprio caminho, ainda que com dificuldades.Era magra, de estatura mediana, com longos cabelos castanhos que quase sempre usava presos em um coque desajeitado. Os olhos verdes eram vivos, cheios de sonhos que pareciam cada vez mais distantes conforme a realidade a empurrava para preocupações mais imediatas – como pagar a mensalidade atrasada da faculdade ou decidir entre jantar e economizar para o transporte.O trabalho no café era exaustivo. O turno começava cedo, e ela passava