Mundo de ficçãoIniciar sessãoDaniel olhou para o relógio da cozinha pela terceira vez em menos de cinco minutos. O tempo parecia não passar.
Três para as dez.
Era ridículo estar tão ansioso. Mas ali estava ele, o jaleco pendurado no encosto da cadeira, a camisa social branca aberta até o segundo botão e uma taça de vinho esquecida sobre a bancada de mármore. Desde que chegou em casa e tomou um banho, não conseguia se concentrar em nada. Tentou ler. Tentou ouvir música. Tentou até revisar o artigo que precisava terminar para o mestrado. Nada funcionou.
A imagem dela não saía da cabeça, com cada detalhe perfeito.
Juliana Campos.
A lembrança da maneira como ela cruzou as pernas no consultório, da voz doce quando pediu o atestado, do olhar sem vergonha de quem sabia o que queria. Linda. Atrevida. E, o que mais o surpreendia, absolutamente à vontade com a própria ousadia.
Ele passou a mão pelos cabelos lisos, respirando fundo.
Era errado. Flertar com pacientes sempre foi uma linha que ele se recusava a cruzar. Não por moralismo barato, mas por princípio. Pessoas que entram em uma clínica estão vulneráveis. Procuram cuidado, alívio, orientação. Elas merecem ser ouvidas, respeitadas, acolhidas.
Ir contra isso sempre lhe pareceu inconcebível, fora de questão.
Mas... E se a paciente não está vulnerável?
E se ela entra no consultório com um sorriso malicioso, sabendo exatamente o que está fazendo?
E se ela — e essa parte fazia seu sangue fluir mais rápido — compartilha das mesmas fantasias?
Daniel bebericou o vinho, agora apenas para ter algo para fazer com as mãos.
A verdade é que ele nunca teve muito tempo para jogos de sedução. Enquanto os colegas iam a festas, ele passava noites enterrado em livros e plantões. A medicina sempre veio em primeiro lugar. Era como se parte dele tivesse congelado certas vontades para se tornar um homem confiável, um médico ético e competente, o filho exemplar.
Mas o desejo secreto sempre esteve ali.
Discreto. Engavetado. Oculto sob a camisa social impecável e o jaleco branco. Aquela ideia quase infantil — mas deliciosa — de brincar de médico com alguém que quisesse a mesma coisa. Não como um fetiche vulgar, mas como um ato íntimo. Tenso. Elétrico. Consentido.
E agora, do nada, a chance surgiu.
Não uma desconhecida qualquer numa rede social ou num bar. Mas alguém real. De carne, osso e curvas. Alguém que o olhou nos olhos e pediu para ser examinada com um sorrisinho nos lábios.
Ela sabia.
Ela queria.
O interfone tocou.
Daniel engoliu em seco, sentindo o coração bater mais rápido do que deveria. Limpou a garganta, apertou o botão e ouviu a voz do porteiro da noite confirmando:
— Senhor Borges, Juliana Campos chegou.
Ele autorizou a entrada e se viu sorrindo. Dessa vez, não o sorriso gentil que usava no consultório. Mas algo mais satisfeito. Mais... Imprevisível.
A noite estava só começando.
E ele tinha toda a intenção de fazer um exame completo. O mais completo da vida daquela mulher provocante.







