A manhã começou pesada, com um daqueles silêncios incômodos que pairam no ar antes de uma tempestade. A equipe se reuniu na salinha dos fundos, onde o cheiro de café recém-passado se misturava ao de desinfetante barato e a tensão era quase palpável. Todos olhavam para mim, esperando uma explicação, e eu sentia o peso de cada olhar, como se fosse responsável por algo que ninguém sabia exatamente o que era.
Ajeitei os cabelos, respirei fundo e comecei.
— A Cecile... — minha voz saiu baixa, mas firme. — Ela está passando por um momento muito delicado. Teve uma complicação grave e... ela precisa de um tempo para se recuperar.
O silêncio que se seguiu foi cortante. Nenhum barulho, nem de máquina, nem de passos no corredor. Só o som de algumas respirações mais fortes e o estalar nervoso dos dedos de alguém.
— Ela está em choque — continuei, tentando manter o tom profissional, mesmo que uma parte de mim estivesse despedaçada por dentro. — Os médicos disseram que ela perdeu muito s