A campainha tocou com um tilintar quase sagrado. Valentina e Rafael trocaram um olhar cúmplice, os olhos brilhando numa mistura de cansaço e alívio, como dois sobreviventes achando abrigo no meio do caos. Correram até a porta na ponta dos pés, pisando devagar como quem caminha sobre esperanças frágeis — ou como se o menor ruído pudesse acordar o furacão que dormia no berço do outro cômodo.
— Pizza Delivery, com amor e borda recheada — sussurrou Rafael, pegando a caixa com as duas mãos, como quem segura um milagre recém-saído do forno.
De volta à cozinha, não acenderam a luz. Não precisavam. A penumbra era aconchegante, íntima. A luz suave da coifa e o brilho tímido do celular de Rafael pintavam sombras nas paredes, como se o mundo inteiro tivesse encolhido até caber ali, naquele instante, naquele chão. A playlist “Jantar para dois (depois do caos)” ecoava baixinho, como uma trilha sonora improvisada da vida real.
Sentaram-se no chão, encostados nos armários como dois adolescentes fugi