Anton
Desci as escadas com passos lentos, ainda me recuperando da conversa intensa da noite anterior. Minha cabeça estava cheia de pensamentos conflitantes sobre Pietra, o bebê, e todas as palavras que havíamos trocado.
Fui arrancado dessas reflexões ao ouvir a porta da frente se abrir com um ruído característico. Anneliese entrou, tirando os óculos escuros com um movimento teatral que só ela dominava. Seus olhos, ainda adaptando-se à luz interna, me lançaram um olhar divertido ao me encontrar parado no meio da escada.
— Quer almoçar comigo? — perguntei, mais para iniciar uma conversa do que por fome genuína.
Anneliese riu, descrente, enquanto tirava o casaco leve e o pendurava no cabideiro com um movimento fluido.
— Almoço? Que horas são? — Ela olhou para o relógio de pulso fino e revirou os olhos dramaticamente. — Eu nem tomei café da manhã ainda.
Franzi a testa, só então notando os detalhes reveladores em sua aparência: as roupas ligeiramente desalinhadas, o batom borrado no canto