Giovanni
Nunca fui um homem que se deixava consumir por arrependimento.
Mas naquela madrugada, parado no corredor gelado do hospital, com as luzes brancas ofuscando minha visão e o gosto amargo da raiva ainda queimando na minha língua, tudo que eu queria era voltar trinta minutos no tempo.
Voltar para o quarto. Voltar para o momento em que ela disse que talvez fosse melhor ir embora. E então, simplesmente, segurá-la. Pedir para ela ficar. Pedir desculpas por ter sido um idiota. Por ter deixado a dor falar mais alto.
Mas eu não disse nada.
E quando voltei, ela não estava mais lá.
O quarto estava vazio.
A cama, desfeita. O lençol jogado para o lado. A tela do monitor ainda exibia sua frequência cardíaca, agora estática. E no criado-mudo, um pedaço de papel.
Meus passos pareceram ecoar pelo chão quando me aproximei. Meu coração já estava acelerado antes mesmo de ler. Eu sabia. Algo estava errado. Muito errado.
Peguei o bilhete com mãos tensas.
"Preciso respirar. Me deixe em paz."
Quatro