Uma história aonde a ficção e a realidade se misturam, algumas situações relatadas sobre a vida da protagonista são reais, são fatos que aconteceram na vida da autora.Essa história conta sobre uma menina negra que foi criada em uma comunidade e como em sua maioria que vivem nesses locais, teve uma vida bem difícil, porém, não só por causa das condições financeiras, mas também pela falta de amor de seus pais e a diferença de tratamento entre ela e sua irmã que é branca. Anne lutou sem apoio de sua família para conseguir se formar em medicina, depois de se formar foi fazer sua especialização em um grande hospital na cidade aonde reside. Nesse hospital ela conhece o doutor Klaus Hensel um médico alemão recém chegado ao Brasil e que é uns dos responsáveis pelos residentes. A partir daí sua vida muda completamente, o doutor se apaixona por ela e faz de tudo para conquistar seu amor. Na vida do doutor Klaus e da doutora Anne irão acontecer situações e revelações que vão te surpreender. Segredos, mistério, drama e amor fazem com que vocês se envolvam nessa história.Algumas situações relatadas na vida da personagem Anne são reais, sem perceber relatei nesse livro alguns fatos que aconteceram comigo, como violência, física e sexual, discriminação, e a violência na comunidade em que eu morava.
Ler maisAnne
Tudo de errado que um pai poderia fazer, o meu fez. Fui uma criança que, por ser criada no meio de adultos, enxergava as coisas de uma forma diferente de das outras que tinham a minha idade. Meu mundo não era cheio de fantasias como o dos meus amiguinhos e da minha irmã, a realidade na minha frente fazia com que eu visse a vida como ela realmente era.
Sou de uma família humilde que reside em um conjunto habitacional na cidade do Rio de Janeiro. O conjunto de prédios onde moro e fui criada é um daqueles que foram construídos para desocupar alguma moradia imprópria, como lugares invadidos ou favelas que surgiram em locais que afetam o poder público ou os olhos de quem tem algum poder aquisitivo. A minha comunidade se chama Faísca e muitas vezes faz jus ao seu nome, porque basta apenas uma faísca para que tudo voe pelos ares. Aqui, a violência e bailes funk regados a drogas e tiros são o carro chefe.
No final do conjunto tem uma favela que recebeu o mesmo nome; os foras da lei que comandam este lugar fazem com que as pessoas de bem sofram com a imposição da presença deles e com o fato de acharem que têm o direito de m****r em nossas vidas. Infelizmente, nada podemos fazer, porque nessa selva vencem os mais fortes. As famílias que, em um ato de coragem, negaram algo aos "donos" da comunidade tiveram suas vidas ceifadas ou foram expulsas sem ter direito de levar nada.
Conheço alguns meninos do tráfico, muitos têm a minha idade e infelizmente optaram por essa vida. Quando esbarro com algum deles, os, cumprimento sem muita intimidade. Nunca deixei de falar com nenhum deles porque, mesmo que tenham uma vida que não seja correta, são pessoas que foram criadas comigo. Fora que a gente nunca sabe o dia de amanhã.
Meu nome é Anne, sou filha de Lúcia e Francisco Martins e tenho uma irmã chamada Bruna, que é completamente diferente de mim. Aliás, muitas vezes eu acho que nasci na família errada. O meu refúgio sempre foi a casa da minha avó paterna. Ela era uma mulher que me amava e me dava muito carinho, algo que eu não encontrava na minha casa. Quando ela partiu, aos meus treze anos, me senti perdida e sozinha. Nunca cheguei a conhecer meu avô paterno e não tinha contato com meus avós maternos, porque eles residiam na Bahia e a minha mãe nunca foi aquela filha de ligar para os pais para saber como eles estavam, nunca teve interesse de aproximar seus filhos dos avós. Ela saiu de casa aos dezoito anos para vir morar no Rio e nunca mais voltou nem para visitá-los.
Meu pai, o que falar dele? Era um homem que cativava as pessoas. Sabe aquele cara, gente boa que todos gostam? Então, esse era o Francisco, conhecido como Chico. Era bem quisto na comunidade, mas as pessoas não sabiam o péssimo pai que era, sendo pior ainda como esposo. Minha mãe sempre foi uma mulher seca, nunca foi carinhosa comigo, mas eu entendia. Ela teve uma criação dura por causa do meu avô, que era militar e tratava os filhos como soldados, e pela péssima vida que ela levava.
Todos os dias, ela saía para fazer faxina e unha das pessoas para colocar comida dentro de casa, porque, apesar do seu marido ter um ótimo emprego, o dinheiro nunca chegava em casa, ficava pelos bares e com as mulheres com quem ele saía.
Sempre fui uma menina muito estudiosa e sempre gostei muito de escrever. Todos os meus sentimentos eram colocados na ponta do lápis, uma forma de desabafar e de ser ouvida por meio daquelas folhas. Enquanto minha irmã adorava ficar na rua, sempre fui caseira. Para mim, não tinha companhia melhor do que o caderno e as páginas de um livro, mas meu pai não gostava que eu ficasse em casa, me chamava de retardada por não gostar de passar o dia na rua. Muitas vezes, ele me suspendia pelo braço, me jogava no corredor, como eu fosse um saco de lixo, e fechava a porta, deixando-me do lado de fora. Aquela atitude me feria profundamente.
Conforme fui crescendo, acabei observando e entendendo algumas coisas. Uma delas era que ele ficava na cozinha, olhando secretamente pelo basculante as mulheres do prédio de frente tomando banho. Uma vez, acordei de madrugada e o flagrei nu em cima do tanque, masturbando-se. Como o basculante era alto, ele precisava subir em algo, e provavelmente não pegou a cadeira para não chamar a atenção da minha mãe. Deduzi que era esse tipo de coisa que ele fazia quando ficava em casa sozinho.
Como disse anteriormente, mesmo sendo criança, enxergava tudo ao meu redor e, por isso, não me relacionava bem com meu pai. Não admitia passar privações enquanto ele curtia a vida, e essa distância aumentou mais ainda quando eu completei treze anos, um pouco depois da minha vó falecer.
Por falar nisso, o velório dela foi deprimente. Meu tio saiu no tapa com meu pai porque ele levou sua amante, e depois, quando chegaram no apartamento dela, quebraram tudo porque todos se achavam no direito sobre seus pertences. O resultado foi que ninguém ficou com nada, nessa confusão até eu saí perdendo porque minhas fotos de infância foram todas rasgadas.
Eu tinha amizade com algumas pessoas da escola, dentre elas com um menino apelidado de Maninho, que um tempo depois entrou para o tráfico. Esse menino foi me procurar na minha casa e meu “maravilhoso e adorado” pai, bateu a porta na cara dele e, assim que entrou, pegou um pedaço de madeira e me bateu com ele. Coloquei meu braço na frente para me defender, e a cada investida, eu segurava o choro. Não derramei uma lágrima, e isso o irritou. Nessa madeira tinha um prego que rasgou meu braço, a dor era gigantesca, mas não desmoronei na frente daquele monstro. Se fosse nos dias de hoje, com certeza eu teria dado parte dele, mas naquela época espancar um filho era dar educação. Essa dor ficou guardada por muitos anos em meu peito.
Minha mãe não fez nada para impedir que ele me agredisse. Quando cansou de me bater, tomou um banho e foi para seu quarto se deitar com ela. Minha irmã me olhou com pena, porém nada podia fazer. Todos foram dormir como se nada tivesse acontecido. Meia hora depois, minha tia, irmã da minha mãe, chegou do trabalho. Ela estava passando uns dias na nossa casa porque havia se desentendido com o marido e, ao ver meu braço torto e ensanguentado, ficou horrorizada. Contei o que aconteceu a ela, que fez um curativo, mas não amenizou a dor e passei a noite toda gemendo. Ainda de madrugada, ouvi minha mãe dizendo que eu estava com dor, e ele não se importou, e ela como mãe, também não.
Pela manhã bem cedo, minha tia me acordou e me levou ao hospital público próximo a nossa casa. Chegando lá, ficamos em uma fila para fazer uma ficha de atendimento. Enquanto esperávamos, passou um grupo de enfermeiras e uma delas, quando viu meu braço, perguntou à minha tia o que eu estava fazendo ali, dizendo que, no meu caso, deveria ter ido direto para emergência. A enfermeira nos acompanhou e depois de todo os procedimentos e medicamentos, fui liberada. Por causa dos ferimentos, teria que voltar depois para engessar e, devido a essa agressão, meu braço só voltou a esticar novamente quando eu completei dezesseis anos.
Todas as vezes que o olhava, ódio crescia dentro de mim, e, a partir desse dia, nunca mais lhe dirigi a palavra. Alguns anos depois, ele e minha mãe se separaram.
Eu trabalhava e estudava e estava prestes a entrar na faculdade. Consegui passar para medicina com muito esforço. Uma menina humilde e a única da família a cursar uma faculdade, eu era um orgulho para mim mesma, porque não recebi parabéns de ninguém. A única coisa que eu ouvia era que médica ganha bem e eu poderia ajudar a família.
Berlim, Alemanha— Joseph, pelo amor de Deus, cadê seu irmão?— Não sei, cunhada, por quê?— Você não está vendo que o bebê vai nascer, seu tapado? — Mayla fala e me segura.<
Dois meses depoisKlaus e eu passamos uma semana em Paris e ele me levou para conhecer os principais pontos turísticos. Fomos ao Arco do Triunfo, Catedral Notre-Dame, Basílica-Coeur,que é linda, e o Palácio Versalhes. Antes de irmos para Alemanha,passamos na Avenida Champs-Elysees.Saímos de Paris e fomos para a Alemanha e meu marido quis me levar para conhecer o lugar onde nasci. Meu sogro fez questão que ficássemos na mansão e Klaus achou melhor vender sua casa, já que não pretende voltar a morar aqui. Quando viermos visitar nossa família, temos a mansão para ficar. Tivemos um jantar em família que foi um pouco constrangedor, Joseph e Mayla passaram a noite toda um jogando piada um para o outro. Antes deles irem embora, conversei com ela, que me disse que Joseph se acha a última bolacha do pacote, e Joseph disse a mesma coisa para o Klaus. Já at&
AnneAmanda e a mulher que está com ela me deixam em um local diferente ao que eu estava antes. Para chegar aqui, tive que andar um longo trajeto e salto que estou usando não ajudou muito. Amanda pede que eu espere uns cinco minutos antes de tirar a venda e, antes de sair, ela e a outra mulher me dão um beijo na bochecha.Quando tiro a venda, fico boquiaberta. Estou em um local completamente escuro, a única iluminação existente é um caminho formado de pequenas luminárias. Quando me dou conta, percebo que eu estou em um vestido de noiva. A emoção toma conta de mim e não posso conter as lágrimas. Agora entendo por que Amanda veio comigo e o porquê da lingerie branca e sexy que ela me fez vestir.Vou caminhado por este lugar, seguindo o rastro de luz. Uma música bem suave enche o ambiente e meu coração. A cada passo que dou, lembro dos
JosephMeu irmão pediu que eu e meu pai fôssemos até a sua casa no Brasil. Fiquei surpreso quando o coroa concordou, ele nunca gostou de ir a países latinos e nem africanos. O tio da minha cunhada e sua filha irão pegar carona conosco, já que ofereci para que fossem conosco em nosso avião. Até agora não entendi por que meu irmão quer a nossa presença, pelo o que eu saiba não é aniversário dele e muito menos da Anne, que agora se voltou a se chamar Anelise. O juiz concedeu válida sua certidão original e minha cunhada foi reconhecida como uma cidadã alemã, graças ao seu tio Kléber que fez um excelente trabalho.Kléber e sua filha, Mayla, nos encontram no aeroporto, e, porra, ela é bonita para cacete. Vai ser difícil manter meu pau no lugar com a porra de uma mulher gostosa como essa viajando por hora
AnneOntem à noite, antes de dormir, disse ao Klaus que estou com medo de tanta calmaria. Desde que o João foi preso, nossa vida turbulenta ficou sossegada como o mar em seus dias tranquilos. Conseguimos reaver a minha herança e minha "mãe" não me procura há um bom tempo. Conversando com meu alemão, decidi que hoje vou ver pela última vez a Bruna e a mulher que me criou. No início, Klaus foi contra, mas depois ele entendeu que é necessário fechar esse ciclo em minha vida, que preciso de informações da minha chegada ao Brasil e Lúcia deve saber de alguma coisa.Saio do hospital e vou direto para a Faísca. Combinei com Lúcia que iria à noite pois Klaus queria me levar, mas achei melhor vir sozinha. Meu alemão é um pouco estourado quando se refere a mim e estou em missão de paz.— Boa noite — cumprimen
AnneDepois que meu alemão ciumento foi embora, não me procurou mais. Hoje pela manhã, ao passar por mim no hospital, me cumprimentou com um bom dia bem seco. Estou morrendo de saudades, mas não vou ceder, ele tem que reconhecer que está errado.— E você e o Adam, como estão? Viu que o doutor Hensel mal me cumprimentou?— Estamos do mesmo jeito. Desde ontem ele não fala comigo, nem bom dia ele me deu, apenas um aceno com a cabeça.— Eles estão parecendo adolescentes. Na cabeça desses turrões, os trocamos por Márcio, e não se trata disso.— Você está certa, Anne, mas colocar na cabeça deles que não é nada disso, que apenas não queremos perder a nossa amizade por ciúmes bobo, é difícil.— Amanda, vamos aproveitar que hoje é sexta e amanh
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