Capítulo 5

Cheguei em casa aos prantos e me joguei no colo da minha mãe. Ela não falou absolutamente nada, apenas ficou alisando meus cabelos enquanto eu chorava.

— Calma, meu amor, tudo se ajeita com o tempo… — ela disse, depois de muito tempo.

— Eu falei com ele mãe! — sentei no sofá e segurei as mãos dela. — Ele me beijou! — Comecei a chorar novamente.

— Minha filha, eu sabia que você ia passar por isso. — ela fez um carinho no meu rosto. — A história de vocês ficou muito mal resolvida, hora ou outra vocês terão que colocar tudo em pratos limpos, é inevitável!

— Eu não quero, mãe! Eu só queria viver a minha vida e deixá-lo enterrado no passado!

— Helena, ele nunca esteve enterrado no passado! Você nunca deixou de amá-lo!

— Mas eu não quero amá-lo, mãe! Amar dói! — eu chorava copiosamente.

Nesse momento meu pai entrou com o Tiago e eu tentei disfarçar.

— Mamãe, você está chorando? — Ele perguntou, com o rostinho preocupado.

— Só um pouquinho, meu amor, a mamãe torceu o pé. — menti.

— Tiago, o que é que você acha de subir e tomar um banho para depois ir ao mercado com o vovô?

— Oba! — ele gritou e saiu correndo. Olhei para meu pai com gratidão.

— Eu já te falei Nena, a gente não foge do destino. — Meu pai era um homem muito sensato, mas eu não podia concordar com isso.

— E eu já te falei, papai, que ele não é meu destino.

— Se não for, então não tem porque fugir dele!

— Ele é casado… — argumentei.

— Não, Nena, ele é amarrado a um casamento sem amor, preso a uma vida infeliz que não foi a que ele escolheu!

— Você não tem como saber, pai.

— Helena, eu vi aquele garoto nascer e crescer, depois que você se foi, ele perdeu o brilho do olhar, era só um corpo sem alma que andava por aí. Nós conversamos inúmeras vezes, ele sempre deixou claro que estaria casado com você, não com a Laura.

— Sebastião, é melhor parar de colocar caraminholas na cabeça da menina. — mamãe chamou sua atenção. — Ela já estava suficientemente confusa!

— Palmira, eu não suporto ver dois jovens sofrendo, sendo que tudo seria resolvido se parassem de ser teimosos! 

— Mas isso não é da nossa conta, homem! — mamãe ralhou novamente com ele.

— Parem, por favor! Não vão brigar por minha causa!

— Nós não vamos brigar, filha. Quando o amor é verdadeiro a gente aprende a relevar certas coisas, sem maiores discussões. — Meu pai falou, jogando um beijo para minha mãe.

Sorri levemente. Em todos os anos que vivi com eles, nunca vi uma briga de verdade, eram apenas discussões rápidas, que sempre acabavam com um carinho ou um beijo. Realmente, o amor deles era verdadeiro e poderoso. Era o tipo de relação que eu queria ter tido com meu marido, mas a única coisa que tive foram espancamentos e traições.

— Eu sempre achei tão linda a relação de vocês! — falei. —Dá para ver o quanto se amam.

— Você ainda pode ter uma relação assim, Nena, é só deixar o homem certo entrar na sua vida!

— Sebastião! — Dessa vez mamãe falou mais alto e ele saiu com os braços erguidos, em sinal de rendição, resmungando sobre mulheres que deixam tudo mais complicado.

— Você acha que o papai está errado? — perguntei a ela.

— Não filha. — ela disse, depois de pensar um pouco. — Eu só não quero que ele se meta na sua vida, nem eu.

Abracei minha mãe e fui tirar o Tiago do banho, se eu conhecia o meu filho, ele passaria o resto da tarde lá. 

Enquanto o ajudava a se vestir, vi pela janela a caminhonete vermelha passando devagar na rua. Ele acenou para o meu pai, mas olhou diretamente para a janela do meu quarto. Isso tinha que parar, eu não ia aguentar ficar vendo ele o tempo todo.

Depois que meu filho foi com o avô para o mercado, peguei os documentos para entregar na escola. Resolvi que iria a pé, já que a escola ficava no final da rua. Tomei um banho e coloquei um vestido leve, o clima da cidade era muito instável, de manhã frio, a tarde, calor insuportável, a noite, frio novamente. E você sempre tinha que estar preparado para a chuva que podia cair tão repentina quanto o sol voltava a aparecer.

Caminhava na rua sentindo o cheiro das flores do início da primavera, quando avistei o Víctor saindo da casa em direção à caminhonete. Me arrependi amargamente por não ter ido de carro, tentei olhar para o outro lado, fingindo que não o tinha visto, mas dois quarteirões adiante,ele me alcançou, andou devagar ao meu lado.

— Helena, entra na caminhonete, precisamos conversar!

— Nem pensar! — Falei, sentindo o coração pular, com as lembranças que aquele veículo me trazia. Muitas vezes namoramos até altas horas, inclusive fizemos amor dentro dela, foi nessa caminhonete, que entreguei minha pureza a ele.

— Eu prometo que não vou te tocar, só quero conversar…

— Você é casado, não podemos ser vistos juntos, já basta hoje no cartório!

Eu andava cada vez mais rápido, na esperança de que ele desistisse, ou que um buraco se abrisse em minha frente e eu pudesse sumir.

— Helena, por favor! É só uma conversa! Eu vou começar a gritar.

—Pois grite! — bufei. — O casado aqui é você!

— Como é? Você não está mais casada? — Ele sorriu.

Parei no meio da rua.

— Víctor, eu te imploro, me deixe em paz!

— Se você entrar aqui e conversar comigo eu juro que te deixo em paz depois.

Fechei os olhos, eu já não tinha mais forças para discutir, meu dia tinha sido uma loucura e eu estava a ponto de ter um ataque de nervos. 

—- É só uma conversa, e tem que ser rápido, porque eu ainda tenho que ir até a escola levar os documentos do meu filho. — falei, entrando na caminhonete.

Ele acelerou e entrou em uma rua paralela, indo em direção à cachoeira que íamos sempre quando namorávamos.

— Como ele é?

— Ele quem? — perguntei sem entender.

— O garoto, seu filho.

— O Tiago é maravilhoso, é o que eu tenho de melhor na minha vida…

— Você colocou o nome…— ele hesitou. — o nome que a gente dizia que ia colocar no nosso filho.

— É um nome bonito… — dei de ombros.

— Eu não tive filhos, queria que fosse com a mulher que eu amo.

— Você não ama a Laura? — Meu coração estava quase saindo pela boca.

— Você sabe quem é que eu amo.

Senti o rosto esquentar.

— Por que se casou, então?

— O que mais me restava, depois que você se foi?

Eu não soube o que falar, eu também havia me casado sem amor.

— O que quer de mim? — perguntei.

— Quero saber por que foi embora.

— Foi você quem me fez ir…

— Como é que pode ter sido eu, se tudo o que eu fiz foi te amar? — ele perguntou.

— Se me amasse não me trairia com a Laura…

— Mas eu nunca nem encostei na Laura enquanto estava com você!

— Ah, Víctor! Me poupe! — xinguei. — Ela me contou do beijo que trocaram antes do baile de formatura…

— Beijo? — Ele quase gritou. — Não houve beijo nenhum!

— Pare, eu quero descer, não estou aqui para ouvir mentiras, além do mais, você não me deve mais explicações!

— Helena! Me escuta! — Desta vez ele gritou. — Não houve beijo! Ela até tentou, mas levou um fora! Que motivos eu teria para te mentir, se hoje estou casado com ela?

Realmente, não havia motivos, mas de fato, ele estava casado com ela.

— E o que é que isso muda agora? — perguntei. — O que está feito, está feito!

— Muda tudo, muda que agora eu sei quem foi que nos separou, muda que eu estou dormindo com o inimigo!

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