Eu não sabia como agir, não sabia em quem acreditar. Só queria sair correndo.
— Víctor, como é que você espera que eu acredite que não houve nada entre vocês, se hoje estão casados? — Helena, você não percebe que ambos fomos enganados pela Laura? — ele deu um soco no volante. — Eu não sei, estou confusa, mas como já falei, isso não muda nada, já passou muito tempo, você está casado com ela… — Se você disser uma só palavra eu largo ela e fico com você! — ele disse, pegando a minha mão, que puxei rapidamente. Nesse momento ele estacionou no fim da estradinha, sempre íamos até essa cachoeira, ele estacionava e nós andávamos a pé até o ponto onde a água ficava calma, a vista era linda e se tornou o nosso lugar. — Eu não vou até a cachoeira, Victor, nós nem devíamos estar aqui. — Helena, eu preciso que me ouça! — ele tentava pegar minha mão, sem sucesso. — Eu cheguei a pensar que podia ser feliz com a Laura, pensei mesmo! Mas no momento em que eu te vi, percebi que nunca vou ser feliz com mulher nenhuma… se não for com você, não será com ninguém! — Você precisa colocar os pés no chão. — suspirei. — Não existe mais nós, não existe mais uma possibilidade de ficarmos juntos. Nosso tempo já passou! — Não! Não passou e você sabe disso! — ele me segurou pelos ombros, se aproximando perigosamente. — Fala olhando nos meus olhos… fala que não me ama mais! Eu tentei, mas quando olhei em seus olhos e vi tanto amor, tanto sofrimento, não consegui, apenas comecei a chorar. Ele me abraçou e ficamos algum tempo assim, em silêncio, as lágrimas rolando e ele fazendo carinho na minha cabeça. Me senti em casa novamente, seus braços eram o meu lar. Aos poucos fui me acalmando e ele beijou minha testa. Senti o calor dos seus lábios e lembrei de como era bom ficar assim quando namorávamos. Num impulso, ergui o rosto e o beijei. Foi a faísca que faltava para que tudo se incendiasse. Ele respondeu ao beijo com paixão, me puxando para o seu colo. Seus beijos eram ávidos, suas mãos passeavam pelo meu corpo, com saudade, como um viajante que retorna ao lar. Arrancamos nossas roupas com pressa, como se o mundo fosse acabar em instantes, nossa respiração acelerada, e quando ele me penetrou, foi como chegar ao topo de uma montanha russa. O frio na barriga, o calor dos nossos corpos nus, a satisfação de ser preenchida de amor e desejo. Nós já conhecíamos nossos corpos, já sabíamos como satisfazer um ao outro, mas foi como se fosse a primeira vez, foi como se fôssemos de novo os dois adolescentes apaixonados descobrindo o amor… descobrindo o prazer. Mais uma vez, eu era feliz dentro da caminhonete vermelha, mais uma vez, depois de tantos anos, eu estava nos braços do único homem que amei. E experimentava a satisfação suprema, era incrível e doloroso ao mesmo tempo. Era intenso, era mágico. Caímos exaustos sobre o banco. Eu continuava em seu colo, nossos corpos ainda pulsavam de prazer, éramos apenas um. — Eu te amo, Gata! Sorri ao ouvir ele me chamar de Gata. Esse era o nosso apelido carinhoso, todos na cidade sabiam que eu era a Gata e ele era o Gato. — Também te amo, Gato! Nos beijamos com paixão e deitamos no banco de trás, eu não queria mais saber se era certo ou não, se eu tinha compromissos, se não podia estar ali… eu só queria que aquele momento não acabasse nunca. Fizemos amor mais duas vezes e começou a escurecer. — Eu tenho que ir, minha família deve estar preocupada… — Eu disse, beijando seus lábios. — Não… se você for, creio que não vai mais acontecer… — ele beijava meu pescoço. — Vamos fugir juntos. — Você está maluco! — falei sorrindo. — Esqueceu que eu tenho um filho? As coisas não são bem assim! — Vamos buscar ele, podemos ir para onde você quiser! — ele estava desesperado, procurando uma solução. — Víctor, não é fugindo dos problemas que vamos resolvê-los! — Falou a mulher que fugiu por oito anos por causa de uma fofoca. — Eu era uma adolescente imatura. E aí está a prova de que fugir não resolve nada. Aqui estamos nós de novo, numa situação ainda mais difícil. — Não tem nada de difícil! — ele me beijou. — Eu vou me separar da Laura e nós vamos ficar juntos! — Não quero que você enfie os pés pelas mãos. — falei contornando sua boca com o dedo indicador. — Temos que agir como adultos. — Helena, eu quero que você me deixe resolver as coisas desta vez! Depois de saber o que a Laura fez, não vou conseguir olhar para ela de novo. Fiquei por um longo tempo observando aquele rosto que eu amava tanto. Em todos aqueles anos, eu não tinha esquecido de nenhum detalhe. E eu amava todos eles. — Ok — cedi. —, vou deixar você fazer como quiser. Eu não vou a lugar algum. Só quero que resolva sua vida logo, porque não vou ficar tendo encontros escondidos com um homem casado. Não sou e nem serei amante. — Não, você não é amante, você é a dona do meu coração… — fechei os olhos para absorver cada uma daquelas palavras que eu tanto ansiava por escutar. Em todos os anos longe, sempre me perguntei se ele realmente não me amava, se só eu havia amado pelos dois. Colocamos nossas roupas e voltamos para casa, pedi a ele que me deixasse alguns quarteirões antes, mas ele simplesmente não parou a caminhonete, passando em frente à sua casa. Laura estava na entrada e ficou olhando quando passamos. Meu coração quase parou. — Víctor, você é maluco! Ela nos viu! E agora? — Eu não estou nem aí se ela nos viu, inclusive, prefiro que seja assim. Nós não devemos explicações, pelo contrário, quem deve é ela. Parou em frente à minha casa e me beijou apaixonadamente, tentei evitar, mas ele me segurou em seus braços. — Não quero te deixar ir… — disse ele, com o rosto aninhado em meu pescoço. — Eu também não quero ir, mas é preciso… Trocamos um último beijo apaixonado. — Te amo, Gata… — Te amo, Gato… Desci da caminhonete e joguei um beijo quando cheguei na porta de casa. Ele deu a partida e voltou para a casa dele de ré, como fazia quando éramos adolescentes. Eu me sentia nas nuvens, mas sabia que uma grande batalha seria travada agora, tanto com a Laura, quanto com a cidadezinha cheia de fofoqueiros e juízes de plantão em que vivíamos.