Às vezes, penso que quem nunca perdeu nada não entende como as ruínas podem ser silenciosas.
Você anda por elas e não sabe se chora pelo que sumiu ou pelo que ficou.
Escrevi essa frase antes de dormir, com a caneta riscando o papel no escuro, só com a luz que vazava da rua. Alguns dias que eu sentia vontade de escrever de verdade, não só para desaguar lembranças. Mas para tentar entender quem eu era naquele espaço entre o que tinha acabado e o que ainda não começara completamente.
Fechei o caderno e apoiei na beirada da cama. O quarto estava tão quieto que dava pra ouvir o vento passando pelos vãos da estrutura. June dormia profundamente, enrolada no cobertor, como se toda a exaustão da semana finalmente tivesse encontrado uma fresta pra sair.
Eu respirei fundo e apaguei a vela.
De manhã, Deborah nos recrutou antes mesmo do café. Tinha chegado um carregamento de cobertores e alimentos, e era preciso separar tudo em caixas menores pra distribuir em outras comunidades. Quando vi a pilha