Ana não conseguiu mais se conter, 'não fazer isso com a Sofi!' e ela? quem iria pensar nos sentimentos dela? Era seu aniversário, seu marido, sua casa! Ela olhou para o marido tentando encontrar algo que explicasse essa situação, mas tudo gritava que ele estava mais uma vez escolhendo a sua amiga de infância. Sem nem mais tentar esconder sua frustração, explodiu:
_ Era para ser nossa noite, nosso aniversário de casamento Pedro! O casamento é nosso, não é uma festa de confraternização com os amigos! Pedro foi pego de surpresa pela sua explosão, Ana sempre foi gentil e generosa, nunca havia visto ela reagir daquela maneira por nada. Ele não compreendia porque estava tão chateada, era só um jantar, não era tão importante assim. _ E qual é o problema, Ana? A Sofi é minha amiga de infância. Ela estava com problemas e eu a convidei para se juntar a nós. Ela é como uma irmã para mim! Sofi. Esse apelido era um espinho cravado em Ana, desde sempre ela o ouvia, nas histórias felizes de Pedro, nas memórias que voltavam sempre comparando aquilo que ele vivera um dia com o que eles eram. Ninguém podia alcançar sua Sofi, o padrão era distante demais. Ana tentou ignorar o fato de nunca ter recebido um apelido carinhoso, ela era sempre 'Ana', nem 'amor', 'querida' ou 'esposa'. Seus sentimentos não são importantes, suas ideias não são boas, seus sonhos não são prioridade, era sempre assim. Ela nunca recebeu atenção plena de Pedro, quando se apaixonou por ele, aceitou que ele era assim. Aceitou a falta de atenção às datas comemorativas, aos seu gosto, às suas vontades, sempre acreditando que ter sido escolhida já demonstrava seu carinho, mas agora ver a sua preocupação com outra era uma zombaria aos seus pensamentos ingênuos, como pode ser tão tola. _ Só uma amiga? Em pleno aniversário de casamento? Você realmente não vê o quão desrespeitoso isso é? Eu esperava um jantar romântico, só nós dois, para celebrar o que construímos. Não um encontro de velhos amigos! A resposta veio tão rápida e agressiva que Pedro não conseguiu reconhecer Ana, por que ela estava tão brava? _ E daí que é nosso aniversário? Não podemos compartilhar a nossa alegria com alguém que está em dificuldades? _ Compartilhar a alegria? Pedro, a alegria do nosso casamento é nossa! Não é um evento para convidados! Eu preparei tudo, comprei aquele vinho que você adora, me arrumei... Para quê? Para a Sofia vir e tirar o brilho do nosso momento?_ Isso é um exagero, Ana! Você está fazendo uma tempestade em copo d'água. É uma amiga. Um jantar. Não é o fim do mundo! _ Para você, talvez não seja. Para mim, é o fim de uma expectativa. É a prova de que você não prioriza os nossos momentos. Eu me sinto… invisível. Ana se sentiu sufocada, um bolo crescendo e fechando sua garganta, como a noite acabou assim? De manhã sua expectativa de uma grande noite a fez sorrir o dia todo. E agora ela já não queria mais nada, apenas que amanhã chegasse para que tudo isso passasse. O que ela quis celebrar? Ela estava decepcionada. _ O que você estava pensando Pedro? Trazer ela deixou tudo menos íntimo. Menos NOSSO! Eu não quero a Sofia aqui. Eu quero você. E eu quero este dia para nós. Você não consegue entender a dimensão disso? _ Eu realmente não vejo por que isso seria um problema tão grande. Você está agindo de forma irracional. _ Irrracional? Racional é você trazer uma amiga de infância para o nosso aniversário de casamento? Acha que é racional? Onde você estava com a cabeça, Pedro?! _ Eu só quis ser gentil! Ela não tem ninguém na cidade, e eu pensei... Seus argumentos eram ridículos, como ele poderia pensar em Ana, dia após dia nos últimos meses ele tem se afastado dela, deste casamento. Nos últimos meses as conversas interrompidas por ligações de Sofia, os favores para ela, os atrasos para o jantar, a saídas com os amigos dela...estavam entre eles agora, como não percebi o que estava acontecendo? Ana tentou segurar a emoção que subia por sua garganta ameaçando sufocá-la. _ Pensou em mim? Pensou no que eu sentiria? No que este dia significa para nós? Porque claramente não pensou. Pedro frustrado suspirou, não entendia porque tudo estava assim, era simples. Era apenas um favor, por uma noite eles receberiam Sofia e tudo voltaria ao normal. _ Ana, por favor... Não vamos brigar por causa disso. _ Já estamos brigando, Pedro. E a culpa não é minha. A culpa é de quem não sabe o significado de um aniversário de casamento. Nesse momento Sofia adentrou na cozinha com uma expressão sentida, como se fosse a vítima de uma grande injustiça, com os olhos marejados prontos para derramar lágrimas ela tentou apaziguar a discussão como uma grande pacificadora. _ Eu posso ir para um hotel, se for o caso. Não quero atrapalhar vocês. Pedro encarou Ana com um olhar de advertência como se lhe dissesse para parar com aquele drama. _ Sofi não se preocupe, você fica, afinal eu ofereci abrigo para você, não vou te deixar desamparada. Aquela cena era patética, novamente o foco do seu marido não estava nela, Ana via a cena se repetindo, Sofia era mais importante em qualquer situação. Ao olhar para Pedro podia ver seus olhos frios que enviavam uma mensagem clara, ' está resolvido ', enquanto Sofia esboçava um sorriso sutil de vitória. A cada dia esse sorriso tinha aparecido em seus lábios todas as vezes em que conseguia sobrepor os pedidos de Ana, como uma zombaria silenciosa de quem vence um oponente mais uma vez. Mas Ana estava farta disso, se ela não pudesse celebrar com Pedro como desejava ela não iria mais insistir, ele escolheu comemorar com a sua 'amiga', Ana também ia escolher com quem comemorar. Lançou um último olhar para eles e disse com a voz derrotada: _ Tudo bem. Pedro achou que havia vencido com um olhar orgulhoso caminhou até a mesa, aos se sentar percebeu que Sofia estava no lugar de Ana, então faltava um conjunto de pratos para jantar, franzindo as sobrancelhas viu que Ana não estava com nenhum conjunto, como iria poder jantar? Mas então Ana passou pela mesa e foi em direção a porta. _ Ana? O que está fazendo? Vamos jantar, não vamos comemorar a nossa noite? Ainda com os olhos um pouco marejados, visivelmente magoada, sua voz saiu fria: _ Obrigada, mas eu passo se você pode comemorar com a sua amiga, eu também vou comemorar com a minha. Saiu sem olhar para trás, ela caminhou diretamente para o carro, deu a partida e acelerou.