CAPÍTULO 07

Sophia

Assim como prometido, Ethan me levou até o banheiro e lavou meu corpo minuciosamente, depois me enxugou e entregou uma de suas camisetas para que eu vestisse. Fomos até a cozinha e ele preparou um delicioso desjejum com direito a frutas, pães e bolos. Jamais imaginei que um dia estaria tomando café só de camiseta e sem calcinha na cozinha do meu chefe. De certo modo, até que é bom.

— Você está tão quieta. — Ethan é o primeiro a quebrar o silencio confortável em que estávamos.

— Só estou pensando.

— Devo me preocupar? — Pergunta divertido e é impossível não sorrir quando vejo sua expressão travessa.

— Não. — Respondo e terminamos o café em silencio novamente.

Ethan observa cada movimento meu, em alguns momentos parece que ele pode enxergar através de mim e isso me assusta. Ele me leva de volta ao quarto e nos vestimos, eu com as roupas do dia anterior e ele com uma calça jeans, camiseta branca gola 'V' e uma jaqueta de couro marrom. Seguimos para o estacionamento de mãos dadas e fizemos o percurso até o meu apartamento, da mesma forma. É gostoso sentir o contato de sua pele com a minha.

Abro a porta e instantaneamente posso sentir o toque da mamãe em cada cantinho. Ela me ajudou a pintar as paredes do apartamento, a escolher os moveis e colocar tudo em seu devido lugar. Quase posso ouvir sua risada e sentir seu carinho. Uma nova onda de lágrimas ameaça cair e antes que Ethan perceba, peço que se sinta à vontade e corro para o meu quarto.

Respiro fundo diversas vezes na tentativa de me acalmar. Tiro as roupas usadas e as coloco no cesto de roupa para lavar. Escolho um vestido soltinho preto e sapatilhas nude, me troco e sei que chegou a hora de dizer adeus definitivamente. Ethan me ajudou muito, me consolou em todo os momentos e depois me levou até as margens do rio Tâmisa, onde realizei o último desejo da mamãe jogando suas cinzas nas águas escuras.

Na volta, ele insistiu que fossemos até o apartamento dele. Tentei de todas as formas que ele me levasse ao meu, mas discutir com Ethan Chang é o mesmo que discutir com uma porta e eu não estou no clima para discussões agora. Assim que chegamos, ele pediu que eu me deitasse até o almoço ficar pronto, nem questionei, eu realmente preciso de um momento sozinha para colocar a cabeça no lugar. Fiquei quietinha na cama, relembrando os bons momentos que passei ao lado dos meus pais. Por mais que pareça que estou sozinha, sei que eles sempre estarão comigo.

O tempo passou e eu nem percebi, só despertei quando ele veio me chamar para almoçarmos. A comida estava deliciosa e fiquei impressionada com a quantidade de coisas que ele preparou em tão pouco tempo. Mas então olhei para o lado e vi as embalagens de comida do restaurante onde Andrew sempre almoça com seus sócios ou pede que eu reserve uma mesa para os almoços de negócios. Sorri com essa pequena trapaça e resolvi não comentar nada, afinal ele já tem feito muito por mim.

Ethan me deu a semana toda de folga, mas tudo que eu não quero agora, é ficar em casa remoendo a perca da mamãe. O trabalho sempre me ajudou a relaxar, ao contrário de muitas pessoas. Vou voltar amanhã mesmo, focar minha mente no projeto da galeria e tentar superar minhas percas um dia de cada vez. Não sei o que será da minha vida pessoal de agora em diante, mas minha vida profissional, vou manter impecável como sempre fiz.

— Está tudo bem? — Pergunta um pouco receoso assim que terminamos de almoçar.

— Não, mas vai passar. — Sou sincera ao dar minha resposta.

— Se eu puder fazer alguma coisa, qualquer coisa para ajudar, você pode contar comigo Sophia.

— Obrigada, mas isso é algo que eu tenho que superar sozinha. Um dia de cada vez, entende? — Ele assente e segura minhas mãos entre as suas.

— Eu pensei que você podia passar a noite comigo de novo... prometo que não vou tentar nada, eu... só quero ficar mais um pouco com você. — Não sei se é uma boa ideia, tenho medo de me apegar e depois ele me deixar, mas não consigo negar seu pedido.

— Eu fico, mais preciso do meu carro.

— Por quê? — Questiona um pouco confuso.

— Quero voltar ao trabalho amanhã.

— Sophia, eu já disse que você tem a semana toda de...

— Eu sei, mas quero voltar. O trabalho me ajuda a relaxar. — Explico.

— Tudo bem, eu te levo mais cedo para você se trocar e seguimos para empresa de lá. — Meu carro ficou no estacionamento da TechBuilders, de maneira alguma vou para o trabalho junto com ele.

— Agradeço, mais realmente preciso do meu carro.

— Seu carro está estacionado na vaga do seu prédio Sophia, as chaves estão comigo.

— Como assim?

— Pedi que um dos seguranças levasse até lá ontem.

— Isso facilita ainda mais.

— Facilita o que Sophia?

— Eu vou com o meu carro para empresa Ethan, não quero que fique chateado, mas não é bom que as pessoas nos vejam andando juntos. Eu já te expliquei como me sinto em relação a isso.

— Você tem vergonha de ser vista comigo? — Pergunta irritado.

— Não é isso! Ethan nós conversamos e você aceitou. Não se esqueça que eu continuo sendo apenas uma estagiária e você é o chefe! — Minha paciência começa a sofrer sérios abalos.

— Isso mesmo, eu sou o chefe e não devo satisfação da minha vida para ninguém porra! Isso é inacreditável! — Ele acaba se alterando e minha paciência escorre pelo ralo.

— Exato! Você é o chefe, MAIS EU NÃO SOU! — Grito e Ethan me encara furioso.

— NÃO GRITA COMIGO PORRA! — Olho para ele assustada com sua explosão, enquanto Ethan passa a mão pelo cabelo diversas vezes em sinal de frustração. — Me desculpa Sophia, eu não queria ter gritado com você. É que isso me deixa louco.

Depois de tudo que aconteceu ontem e hoje, eu não esperava essa reação vinda dele. Nós conversamos e ele aceitou ser discreto. Ethan é meu chefe, se eu chegar com ele as pessoas vão falar. Isso tudo é culpa minha, praticamente implorei que ele transasse comigo e não pensei nas consequências. Preciso acabar com isso antes que seja tarde demais e as coisas acabem piorando. Respiro fundo e tento controlar minha voz.

— Eu sinto muito por ter me exaltado senhor Chang. Se não se importa, eu gostaria de ir para a minha casa agora. — Me controlo para não chorar na frente dele.

— Sophia, por favor...

— Eu só quero ir pra casa. — Minha voz começa a rachar e tenho que desviar meu olhar para janela. Lá fora as nuvens escuras anunciam uma possível tempestade.

— Eu sinto muito Sophia... Fica, por favor. — Pede com um pouco de desespero e sei que se eu continuar aqui, vou acabar cedendo.

— Já abusei muito da sua boa vontade senhor Chang, agradeço a sua hospitalidade, mas eu preciso ir. — Me levanto e mando uma mensagem com o endereço, para um táxi vir me buscar.

— Sophia, não faz isso... — Súplica e tenho que usar todas as minhas forças para continuar firme e fingir que não estou quebrada por dentro.

— Eu já chamei um táxi senhor. Mais uma vez, obrigada por tudo. — Pego minha bolsa em cima do sofá e sigo para o elevador privativo sem olhar para trás. Aperto o botão do térreo e aguardo as portas se fecharem.

Assim que estou sentada na segurança do banco traseiro do táxi, me permito relaxar e deixar as lágrimas caírem livremente. Meu celular vibra com a chegada de duas novas mensagens e não reconheço o número. Ao abrir as mensagens não tenho dúvidas de quem as mandou.

Isso não foi um adeus senhorita Taylor. Fui bem claro ao dizer, que não deixaria você partir e não costumo quebrar minhas promessas.

Te vejo amanhã princesa.

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