Capítulo 55

HARRY RADCLIFFE

Trabalhar como estoquista em uma farmácia durante o dia não era o pior dos castigos. O gerente era um idiota paternalista que adorava repetir frases como “quem quer, trabalha” e “todo mundo tem um início humilde”. Engolia aquilo por um salário mínimo e o benefício de não ter que falar muito. Apenas baixar a cabeça, empilhar caixas e manter os registos em ordem. Nisso, eu era bom. E ninguém se aproximava.

À noite, trocava de roupa nos fundos da farmácia e seguia direto para o bar em Clinton Hill. Era um bar pequeno, meio sujo, frequentado por universitários que não sabiam beber e senhores de meia-idade que sabiam demais. Ali, ser educado era uma conveniência. Fingia um sorriso, anotava pedidos, desviava de mãos inoportunas e mentia com naturalidade quando diziam que estavam sem dinheiro para a gorjeta.

— Quer pagar depois? — eu perguntava, sem esperar resposta. — Que generoso da sua parte achar que isso é um restaurante beneficente.

A maioria se calava, seja lá o porquê
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