O dia seguinte ao jantar começou com um ar diferente na Valentin Company. O burburinho nos corredores estava mais intenso do que o normal. Não era novidade que Arthur Valentin atraía comentários, mas agora havia um novo assunto: a forma como ele havia mantido Lívia próxima durante todo o evento.

Enquanto subia para o 25º andar, Lívia percebia os olhares. Algumas mulheres sorriam de forma forçada, outras simplesmente a avaliavam de cima a baixo. Entre elas, estavam nomes conhecidos do departamento administrativo: Camila, elegante e calculista; Fernanda, com seu estilo impecável e perfume marcante; e Lorena, uma das advogadas da empresa, conhecida por seu charme e persuasão.

— Bom dia, Lívia — disse Camila, com um sorriso afiado. — Ouvi dizer que o jantar foi… animado.

— Foi produtivo — respondeu, mantendo o tom profissional.

Fernanda se aproximou, cruzando os braços.

— Produtivo… para os negócios ou para a sua proximidade com o presidente?

Lívia não se deixou abalar.

— Para ambos, talvez. — E seguiu para sua mesa.

A verdade era que ela ainda sentia o peso do olhar de Arthur na noite anterior, e a forma como ele havia falado com ela antes de se despedirem não saía de sua mente.

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Às 10h, Arthur passou pelo corredor em direção à sala dele. Gravata perfeitamente alinhada, o paletó ajustado ressaltando seus ombros largos, e aquele andar firme que parecia dominar o ambiente. Várias cabeças se viraram para segui-lo. Lívia, sentada próxima à sua porta, percebeu como algumas mulheres o observavam com uma mistura de admiração e desejo.

Poucos minutos depois, ele entrou na sala e a chamou.

— Preciso que organize estes contratos para a reunião da tarde — disse, entregando-lhe uma pasta. — E verifique se a equipe do marketing já enviou o relatório do trimestre.

Enquanto falava, o celular de Arthur vibrou sobre a mesa. Ele olhou para a tela, e por um breve instante, seu semblante se fechou. Pegou o aparelho, se afastou um pouco e atendeu.

— Agora não. — Sua voz estava baixa, mas firme. — Já conversamos sobre isso.

Pausa.

— Eu disse que não posso. — O tom endureceu. — Adeus.

Ele desligou, largando o celular sobre a mesa como quem encerra um assunto que não queria discutir. Lívia, curiosa, notou que seu olhar permanecia distante por alguns segundos, mas logo ele retomou a postura habitual.

— Continue com os contratos, por favor — disse, voltando à sua mesa.

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Meia hora depois, Patrícia surgiu na porta, batendo levemente antes de entrar.

— Senhor Valentin, desculpe interromper, mas… a Senhorita Beatriz está na linha novamente. Ela insiste que precisa falar com o senhor.

Arthur nem ergueu os olhos.

— Diga que estou ocupado.

— Mas ela disse que é urgente — insistiu Patrícia, com um leve brilho nos olhos, como se estivesse saboreando aquele momento.

— Estou ocupado — repetiu, dessa vez com um tom que não deixava espaço para mais perguntas.

Patrícia assentiu, mas a forma como olhou para Lívia ao sair da sala deixava claro que havia entendido mais do que deveria. Era como se tivesse acabado de encontrar uma nova peça de um quebra-cabeça que vinha tentando montar há meses.

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No intervalo do almoço, o clima na copa da empresa estava carregado. As conversas eram sobre o jantar, sobre quem tinha ficado ao lado de Arthur e, claro, sobre a atenção que ele parecia dar a Lívia.

— Ele nunca foi de levar assistentes para eventos desse tipo — comentou Lorena, mexendo o café. — E agora, de repente, essa menina nova está sempre com ele.

— É questão de tempo até isso virar algo — disse Fernanda, com um sorriso enviesado.

Lívia ignorou os comentários, mas no fundo sabia que o ambiente estava se tornando mais difícil. Ela não havia pedido para estar tão próxima de Arthur, mas cada vez que tentava se afastar, ele a puxava de volta para o centro do seu mundo — e esse mundo, claramente, tinha rivais prontas para derrubá-la.

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À tarde, Arthur a chamou novamente.

— Temos um jantar de negócios amanhã. Preciso que você esteja presente.

— Claro. — Ela fez uma anotação, mas não pôde evitar perguntar: — A ligação de mais cedo… aconteceu alguma coisa?

Ele ficou em silêncio por um instante, olhando-a como se calculasse se deveria ou não responder.

— Não é algo com que você precise se preocupar. — Então, mudando de assunto, continuou: — Traga o relatório da última campanha, por favor.

A resposta só aumentou sua curiosidade. O tom de voz dele durante a ligação, o nome “Beatriz” dito por Patrícia, a forma como ele encerrou a conversa… tudo soava como um segredo guardado a sete chaves. E, de alguma forma, ela sabia que esse segredo poderia mudar tudo.

Ao voltar para sua mesa, Lívia percebeu Patrícia observando-a à distância, como se estivesse esperando uma reação. Mas Lívia não lhe deu o prazer. Guardou o relatório na pasta e focou no trabalho.

Ainda assim, no fundo, sentia que algo importante havia começado a se desenrolar. E, pelo brilho curioso no olhar de Patrícia, ela não era a única a pensar assim.