A manhã começou com o suave aroma de café se espalhando pelo 25º andar. Lívia chegou cedo, tentando evitar os olhares e cochichos que se tornaram comuns desde o jantar na noite anterior. Mas naquela sexta-feira, o ambiente parecia guardar algo inesperado.
Às dez horas, a recepcionista surgiu à sua mesa com um arranjo enorme de rosas vermelhas e um envelope bege. — Entrega para você, Lívia. Surpresa, ela pegou o cartão. "Ainda quero aquela conversa. — M." Marcelo. O empresário charmoso do jantar. O rubor subiu-lhe às faces, e ela rapidamente colocou as flores ao lado da mesa. Não queria que ninguém fizesse comentários… mas era tarde demais. Patrícia, passando pelo corredor, arqueou uma sobrancelha. — Popular, hein? — disse com um tom carregado de malícia. Poucos minutos depois, Arthur apareceu na porta. Seus olhos percorreram as flores, depois encontraram os de Lívia. — Bonitas — disse, seco. — Não deixe que distraiam você do trabalho. Ela assentiu, mas percebeu o modo como sua expressão se fechou. Arthur não gostava daquilo — não das flores em si, mas de quem as havia enviado. --- No almoço, os comentários na copa giravam em torno do arranjo. Camila, Fernanda e Lorena trocavam olhares cúmplices, como se tivessem encontrado um novo combustível para as especulações. — Marcelo não perde tempo — disse Lorena. — E dizem que ele sempre consegue o que quer. Lívia tentou ignorar, mas por dentro não sabia o que pensar. Marcelo era simpático, atencioso… mas a intensidade de Arthur era algo que mexia com ela de um jeito diferente. Quando voltou à sua mesa, encontrou um bilhete sob o teclado: "Jantar às 20h. Preciso que esteja comigo. — A.V." Simples, direto e impossível de recusar. --- No meio da tarde, enquanto organizava documentos, ouviu Patrícia falando ao telefone na antessala de Arthur. — Sim, entendo… mas o senhor Valentin está em reunião. — Uma pausa, seguida de um tom mais baixo: — Vou tentar avisá-lo. O nome Beatriz escapou no final da frase, quase como um sussurro. Lívia sentiu o estômago revirar. Outra vez aquela ligação. Ela sabia que não era o momento para perguntas, mas não conseguia evitar a curiosidade. Arthur saiu da sala pouco depois, o celular na mão, e passou direto sem olhar para os lados. Seus ombros estavam tensos, como se carregasse um peso invisível. --- Pouco antes de encerrar o expediente, Arthur apareceu à porta da sala dela. — Preciso falar com você — disse, com aquele tom que não aceitava recusas. Ela o seguiu até sua sala, sentindo o peso dos olhares curiosos pelo corredor. Ao entrar, ele fechou a porta e encostou-se à mesa, cruzando os braços. — Não quero que aceite mais nada desse homem — falou, referindo-se às flores. — Ele não é quem parece ser. — E quem ele é, então? — ela rebateu, erguendo o queixo. Arthur se aproximou um passo, e sua presença intensa a fez prender a respiração. — Apenas… confie em mim — disse, a voz mais baixa, quase um sussurro. Ao sair, Lívia percebeu que seu coração batia rápido demais. Parte de si queria questionar mais, arrancar dele aquelas respostas misteriosas. Outra parte, no entanto, estava estranhamente satisfeita em sentir que, de alguma forma, Arthur estava protegendo-a — ou talvez, querendo-a apenas para si. ---- Às 20h, Lívia chegou ao restaurante escolhido para o jantar. Vestia um vestido preto de tecido leve, que realçava sua silhueta e deixava à mostra os ombros delicados. O cabelo solto caía em ondas suaves, e um brilho discreto nos lábios completava o visual. Arthur já estava lá, conversando com dois homens de terno escuro. Seus olhos a seguiram desde o momento em que ela entrou, e por um instante, o mundo pareceu se calar. Mas antes que pudesse se aproximar, ouviu a voz do maître: — Senhorita Lívia, sua mesa é junto ao senhor Valentin… e também ao senhor Marcelo. O nome ecoou em sua mente como um trovão. Ela ergueu os olhos, e ali estava Marcelo, sorrindo, com um olhar que dizia claramente: jogo começando. E foi assim que o jantar começou — com dois homens, intenções opostas e uma noite que prometia muito mais do que simples conversas de negócios.