O céu ainda estava cinza quando Lívia desceu do táxi em frente à Valentin Company. Eram seis e vinte da manhã, e o ar frio de outono lhe arrepiava os braços. Caminhou apressada até a entrada, o som dos saltos ecoando pelo mármore do saguão silencioso.
O elevador subiu lentamente até o 18º andar. Lá em cima, as luzes do corredor estavam reduzidas, criando sombras alongadas nas paredes. A sala de reuniões 12 ficava no canto direito — porta de vidro fosco, maçaneta metálica gelada ao toque. Lívia respirou fundo antes de entrar. Arthur estava lá, sozinho. Ele vestia calça social preta, camisa branca com as mangas arregaçadas até os antebraços, revelando veias discretas e um relógio de aço elegante. O primeiro botão da camisa estava aberto, e um leve traço de colônia amadeirada se misturava ao cheiro do café que repousava na mesa. Os cabelos castanho-escuros estavam impecavelmente penteados para trás, mas uma mecha rebelde caía sobre a testa, suavizando a perfeição de seu rosto anguloso. Ele ergueu o olhar do maço de papéis que segurava. — Pontual de novo. — Um leve sorriso puxou o canto de seus lábios. — Isso é… extremamente positivo. Lívia entrou, depositando a bolsa na cadeira mais próxima. — Vai me dizer o motivo de me chamar tão cedo? Arthur deu dois passos lentos até a mesa e apontou para um conjunto de pastas. — Quero que leia isso. São propostas de um cliente importante. Mas não é para avaliar tecnicamente. Quero que me diga qual sentiu mais forte impacto. — Sentir? — ela arqueou a sobrancelha. — Isso não é um pouco subjetivo? — É exatamente o que quero. — O olhar dele pousou sobre ela com intensidade. — Negócios não são só números, Lívia. São instinto. Quero saber se você confia no seu. Arthur deu uma longa olhada novamente em Lívia, sua pele branca reluzia um banho recém tomado e um leve rubor nas bochechas, com um rabo de cavalo bem preso denotando seu longo cabelo preto, ela vestia uma roupa social justa e elegante que contornava todas suas curvas de forma sutil, com um decote ligeiramente convidativo, porém tão descreto que o fazia duvidar se aquele tom sexy era proposital. --- Ela se sentou e começou a folhear a primeira pasta. Sentia os olhos dele sobre si, mesmo quando não olhava diretamente. Arthur se encostara na parede, braços cruzados, observando cada gesto seu. O silêncio na sala parecia carregado, quase palpável. O som das páginas viradas e o leve bater da caneta dele contra a mão eram os únicos ruídos. De vez em quando, ela se permitia levantar os olhos — e sempre o encontrava olhando de volta. Não era um olhar qualquer. Ele analisava, mas também provocava. Ao terminar a terceira pasta, Lívia empurrou-a para frente. — Essa. Arthur se aproximou, seus passos firmes ecoando no chão. — Por quê? — Porque transmite confiança. Direta, sem rodeios. Parece que quem escreveu sabia exatamente o que queria. Ele parou ao lado dela, tão próximo que Lívia podia sentir o calor que emanava dele. — Gosto da sua percepção. — Pousou a mão sobre a pasta e, ao puxá-la, deixou os dedos roçarem levemente os dela. O toque foi rápido, mas suficiente para provocar um arrepio que percorreu o corpo dela. --- Arthur fechou a pasta e a colocou de lado. — Hoje à noite, quero que me acompanhe em um jantar com investidores. Lívia ergueu o olhar, surpresa. — Não acha cedo demais para me envolver nesse tipo de evento? Ele inclinou levemente a cabeça. — Não. Você aprende rápido. — E então, com um meio sorriso, acrescentou: — Além disso, quero ver como se sai fora do escritório. — E se eu disser que não posso? — ela provocou. Arthur deu um passo para trás, mas sem perder o contato visual. — Então vou entender que não gosta de desafios. A tensão pairou no ar por alguns segundos, até ele quebrar o momento pegando outra pasta e voltando para a mesa. --- Nos minutos seguintes, conversaram sobre detalhes da reunião da noite. Lívia anotava, mas a mente insistia em voltar para a forma como ele a olhava, como parecia controlar cada interação. Quando o relógio marcou sete e quarenta e cinco, Arthur disse que ela podia ir preparar o restante do dia. Lívia pegou a bolsa e, ao abrir a porta da sala 12, deu de cara com uma mulher parada no corredor. Cabelos loiros impecáveis, coque alto, maquiagem perfeita — o tipo de beleza clássica que parecia tirada de um editorial. Usava saia lápis preta, camisa de seda azul e segurava uma pasta contra o corpo. — Ah, você deve ser a nova assistente — disse ela, com um sorriso que não chegava aos olhos. — Sou Patrícia, secretária do senhor Valentin. O tom com que pronunciou senhor Valentin tinha uma suavidade marcada, quase íntima. Lívia sorriu educadamente. — Prazer. — O prazer é meu. — Patrícia lançou um rápido olhar por cima do ombro dela, direto para Arthur, que agora estava recolhendo os papéis sobre a mesa. — Espero que esteja… se adaptando. — Estou, sim — respondeu Lívia, mantendo o mesmo tom cordial. Enquanto caminhava para o elevador, sentiu o olhar da loira a acompanhando. Não era apenas curiosidade. Era posse. Patrícia não precisava dizer em voz alta, mas estava claro: Arthur não era um território livre. O que Patrícia não sabia — ou talvez soubesse muito bem — é que Arthur parecia estar convidando Lívia a entrar nesse território.