O despertador tocou às cinco e meia. Lívia se levantou mais cedo do que o habitual, determinada a cumprir o “pedido” de Arthur.
Era só café, mas ela sabia que não era apenas sobre isso. Ele estava testando se ela obedeceria.
Fez questão de escolher a melhor cafeteria da cidade, mesmo que isso significasse desviar o caminho e gastar o dobro do tempo. Quando entrou no elevador da Valentin Company, já passava das seis e cinquenta. O copo de café, ainda quente, estava protegido por uma tampa personalizada com o logo da cafeteria.
A sala dele estava com a porta encostada. Lívia bateu de leve, mas não esperou resposta — empurrou devagar e entrou.
Arthur estava sentado atrás da mesa, sem o paletó, com a gravata afrouxada e a camisa branca aberta no primeiro botão. Seus olhos se ergueram lentamente do notebook para ela.
— Pontual. — Um canto de sua boca se ergueu. — E aparentemente, atenciosa.
Ela colocou o café sobre a mesa.
— Escolhi um lugar que torra o grão na hora. Achei que o senhor gostaria.
Arthur girou a caneta entre os dedos, observando-a com um interesse que não tinha nada a ver com a bebida.
— Gostei do cuidado. Mas… — ele inclinou-se para frente — quero que saiba que não é só sobre café.
Lívia sentiu um arrepio.
— E sobre o quê, então?
Ele se levantou, andando lentamente até parar ao lado dela.
— Sobre saber ouvir instruções… e executá-las exatamente como eu quero.
O tom não era agressivo, mas havia um peso naquela voz que fez seu corpo inteiro reagir. Ela sustentou o olhar, decidida a não demonstrar fraqueza.
— Acho que estou indo bem até agora.
Arthur deu um meio sorriso.
— Está. Mas isso foi fácil. Vamos ver como se sai no que vem a seguir.
O “seguinte” foi um dia inteiro colada a ele.
Reuniões, apresentações, chamadas de vídeo com clientes internacionais. Arthur a apresentava como “minha assistente pessoal” e, a cada vez que dizia isso, o jeito que pronunciava pessoal parecia carregado de uma intenção oculta.
No almoço, ele dispensou a equipe e pediu que almoçassem sozinhos em um restaurante discreto.
O garçom se afastou e Arthur recostou-se na cadeira.
— Então, me diga… por que aceitou trabalhar aqui?
— Oportunidade, crescimento, aprendizado — respondeu sem hesitar.
— E não teve medo? — ele questionou, erguendo uma sobrancelha. — Dizem que não é fácil trabalhar comigo.
Lívia bebeu um gole de água antes de responder:— Eu não tenho medo de homens difíceis.
O olhar dele pousou nos lábios dela, lento, como se estivesse calculando algo.
— Bom. Vamos ver se continua dizendo isso daqui a alguns meses.
À tarde, já de volta ao escritório, Arthur pediu que revisasse um contrato importante. Lívia ficou em sua sala, sentada diante da mesa, enquanto ele analisava outros documentos ao lado.
A cada vez que se inclinava para pegar algo, ela sentia seu perfume, e isso a desconcentrava mais do que gostaria de admitir.
Em certo momento, ele veio por trás dela para olhar a tela do computador.
— Aqui — ele apontou para uma cláusula —, mude essa palavra. Pode parecer detalhe, mas detalhes são o que definem quem vence.
Sua mão roçou levemente o ombro dela. Lívia prendeu a respiração, consciente demais da proximidade. Quando se afastou, Arthur não disse nada, mas um brilho satisfeito dançou em seus olhos, como se soubesse exatamente o efeito que causava.
No fim do dia, enquanto guardava as coisas, recebeu outra mensagem no celular:
"Amanhã, 6h30. Sala de reuniões 12. Venha sozinha."
Nenhum “por favor”, nenhum motivo. Só a ordem.
Lívia olhou para a porta do escritório de Arthur. Estava fechada.
Sabia que poderia perguntar o porquê, mas parte de si não queria. Parte de si estava curiosa demais para estragar a surpresa.
Saiu da empresa com a estranha sensação de que estava entrando num jogo perigoso — e, ainda assim, não conseguia imaginar desistir.