A primeira coisa que senti foi o frio no lençol.
O corpo dela não estava ali.
Abri os olhos devagar, meio entorpecido pelo cansaço da noite anterior. Por um momento, imaginei que ela estivesse no banheiro, ou na cozinha. Talvez tivesse acordado antes de mim e decidido preparar café, qualquer coisa comum, cotidiana… que me deixasse acreditar que aquilo era real. Que ela ainda estava aqui.
Mas então meus olhos encontraram o pedaço de papel dobrado sobre o travesseiro ao meu lado.
Não precisei abrir para saber.
Meu peito afundou.
Sentei devagar, ainda nu, com o lençol enrolado à cintura, e peguei o bilhete com dedos trêmulos. O quarto ainda carregava o perfume dela, o rastro da nossa noite. Meus músculos doíam de cansaço, mas era outra dor que crescia em mim.
Desdobrei o papel.
*Enzo,
Você me deu uma noite que vou guardar pra sempre. Mas eu preciso entender quem eu sou longe de vocês dois. Eu preciso respirar sem medo, sem culpa, sem me partir ao meio cada vez que olho para um e sinto fa