O relógio marcava 2h16 da madrugada.
Na penumbra do quarto, Ana dormia com os braços em volta de um travesseiro longo que envolvia sua barriga. Os lençóis estavam ligeiramente embolados ao redor dos joelhos, como se ela tivesse se remexido pouco antes. O ventilador girava devagar, lançando um sopro morno pelo ambiente.
Kenji estava parado à porta. Imóvel.
Vestia apenas uma calça escura e uma camisa de algodão, já com as mangas dobradas. Os sapatos em silêncio absoluto.
O celular vibrava leve no bolso — uma mensagem. A quarta. Ele não respondeu nenhuma.
O olhar dele permanecia fixo nela.
Ana.
Os cachos soltos pelo travesseiro.
A respiração profunda e ritmada.
A mão pousada com doçura sobre a curva discreta da barriga.
Ela parecia um santuário.
Kenji mordeu o lábio inferior com força, como se quisesse conter algo que não podia dizer. Um impulso. Uma hesitação.
Eu devia ficar.
Só mais um pouco… só até o sol nascer…
Mas ele sabia que não podia.
O mundo fora daquela casa nã