A manhã nasceu densa. A chuva da madrugada tinha cessado, mas o ar continuava pesado, carregado como se o céu ainda estivesse indeciso sobre desabar de novo ou segurar as lágrimas por mais um tempo.
Caminhei pelo corredor central do asilo com passos lentos, a mente ainda enevoada pela conversa da noite anterior. O rosto de Otávio, o cansaço nos olhos dele, a dor que pingava de cada palavra dita... tudo ainda vibrava em mim como se estivesse colado à pele.
Meu turno havia começado há pouco, e eu me lembrava de que Dona Elvira precisava de um dos remédios controlados que ficavam trancados no pequeno armário da sala administrativa — a que Otávio usava como escritório.
Eu sabia que ele não estava ali. Saiu mais cedo, comento