A sala de reuniões parecia mais iluminada do que de costume. Talvez fossem as janelas escancaradas, talvez o sol forte da manhã, ou talvez fosse só eu tentando achar uma desculpa para não olhar na direção dele.
Otávio estava à cabeceira da mesa, com a postura impecável de sempre. Camisa social clara, mangas dobradas, olhar fixo nos papéis à sua frente. Frio. Intocável.
Nem um aceno. Nem um “bom dia”.
Como se eu fosse só mais uma funcionária qualquer.
Fingi que não doía. Fingi que não reparei quando ele olhou diretamente para Ana ao fazer um comentário sobre a logística da nova ala, pulando por completo a minha presença — como se eu não fosse a responsável por metade do que ele estava discutindo.
Segurei a caneta com força, anotando qualquer coisa, sem realmente ouvir. Não podia demonstrar nada. A sala estava cheia. Dona Elvira, Seu Aníbal, os coordenadores de cada setor. Era só trabalho.
Mas cada segundo ao lado dele era uma tortura bem disfarçada de normalidade.
— O ponto principal —