A noite seguinte nasceu sem lua.
Nem mesmo as estrelas ousaram rasgar o véu de névoa que se adensava sobre os campos. A vila, silenciosa como um túmulo vigilante, respirava com dificuldade. Cada casa parecia ouvir, cada parede pulsava como se fosse feita de carne viva.
No centro da torre norte, Clarice acendia uma chama ritual em frente ao altar da Pedra da Lembrança. Estava só, vestida com um manto branco marcado por traços de prata — os mesmos que se haviam formado em sua pele após o ritual da nascente.
Idran se aproximou com lentidão, como se temesse perturbar a vibração do ar.
— A pedra abriu outra fenda?
— Não. — respondeu ela sem virar o rosto. — Mas ela me chamou esta noite. E dessa vez… com uma visão diferente.
Ela ergueu os olhos, agora mergulhados em um brilho opaco.
— Um homem. De branco. Mas não era humano. Nem fera. Era algo entre. E ele me observava.
— Descreva.
— Ele tinha os olhos vazios… como se fossem espelhos. E toda vez que eu tentava me aproximar, eu via a mim mes